31 janeiro 2012








um desejo chamado eléctrico










Não sabemos o que o texto nos faz. Porque somos precisamente os que cegam perante o texto, que erguem os braços sem consciência. A literatura é perigosa porque é subliminar. É inteiramente visível, iluminada, mas nenhum leitor está acordado para saber quem é.
A oferta infindável da literatura, eis o que ilude: tanta segurança nos dá ao mostrar-se disponível – que nos faz esquecer o seu preço. Dá-se como coisa comestível, mas para nos devorar.
Ninguém sabe que gestos faz quando lê, até que ponto obedece ao livro, que crimes comete por ter lido certo livro, que inocência súbita recebe por não ter lido outro. Alguns erguem os braços, outros suicidam-se por terem lido Werther.




Pedro Eiras













avenida da liberdade











muito antes da proliferação mercantil oriental (leia-se: praga das lojas chinesas), já os radiohead falavam de um mundo de plantas de borracha e de gente falsa com valores de plástico – e nem esqueceram a cirurgia estética.
mas do que eu gosto mesmo nesta canção, a que retorno muitas vezes, é dos (falsos) contrastes de ritmo que um arranjo subtil consegue sobrepor à linha melódica.


a green plastic watering can
for a fake chinese rubber plant
in the fake plastic earth

that she bought from a rubber man
in a town full of rubber plans
to get rid of itself

it wears her out, it wears her out
it wears her out, it wears her out

she lives with a broken man
a cracked polystyrene man
who just crumbles and burns

he used to do surgery
on girls in the eighties
but gravity always wins

and it wears him out, it wears him out
it wears him out, it wears him out

she looks like the real thing
she tastes like the real thing
my fake plastic love

but i can't help the feeling
i could blow through the ceiling
if i just turn and run

and it wears me out, it wears me out
it wears me out, it wears me out

and if i could be who you wanted
if i could be who you wanted
all the time, all the time














janelas de lisboa









Dizes que me amas de uma tal forma,
que não consigo deixar de corar;
que me amas de um modo primitivo,
sem razão aparente e sem desculpas
e que me amas porque me desejas,
porque sabes que eu também te amo
e como o monstro deste amor nos devora
a alma, a paciência e as maneiras.
É uma pena que todas estas coisas
morram em nós afogadas de silêncio.





Amalia Bautista






{... e lê-se (muito) melhor aqui ...}

30 janeiro 2012







cais da rocha










ainda me lembro de ouvir isto quando pairava no ar o vago receio de ser construída essa central nuclear junto ao rio douro, do outro lado da fronteira - e na altura teve o impacto de um manifesto.
depois foi-se tornando uma das minhas canções preferidas.
e ouvido agora, tantos anos depois, ainda é um grande grande azul cantado em português.






subo e desço este rio
de miranda ao araínho
sob a torreira e o frio
faço a escarpa brotar vinho

sonhei que era o mississipi
e que memphis era no pinhão
vindimando ao som de adufe
bandolim e acordeão

rio abaixo rio acima
a dar aos remos no rabelo
rio abaixo rio acima
sayago paira por cima
o sonho vira pesadelo

vinha eu no meu caíco
a ouvir das águas do douro
velhas lendas de fronteira
entre o cristão e o mouro

quando vi um pescador
a olhar o rio inconsolável
que é da enguia e do robalo
da tainha e do sável

rio abaixo rio acima
a dar aos remos no rabelo
rio abaixo rio acima
sayago paira por cima
o sonho vira pesadelo












avenida da liberdade





29 janeiro 2012





Testamento




Disse: Creio na poesia, no amor, na morte,
e por isso mesmo creio na imortalidade. Escrevo um verso,
escrevo o mundo; existo; existe o mundo.
Da ponta do meu dedo mínimo corre um rio.
O céu é sete vezes azul. Esta pureza
é de novo a primeira verdade, a minha última vontade.




Giánnis Ritsos











rua das flores








"Age is a question of mind over matter...
If you don't mind, it doesn't matter."




Satchel Paige





28 janeiro 2012








um desejo chamado eléctrico









fábulas de lisboa




iv. martinho da arcada




( lê-se melhor aqui )













alcainça










o imortal joão sebastião escreveu alguma da melhor música de sempre, talvez a única em que o divino se tornou humano.
essa é uma das razões que a tornam eterna e universal - e talvez por isso qualquer tema de bach pode ser reinventado - parecendo ser sempre a primeira vez que o ouvimos.
o jazz nunca fugiu a esse fascínio e jacques loussier mostra-o neste prelúdio, que é quase tão bom quanto o original…




(do cravo bem temperado pelo joão sebastião)





27 janeiro 2012









janelas de lisboa











chamar a si todo o céu com um sorriso





que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos


que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens


e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso





e. e. cummings

(tradução de cecília pinheiro)











santa justa olhando são jorge










para mim os silencers tiveram uma existência breve e fugaz e nem sei se ainda existem, mas há muitos anos lançaram um disco chamado “a blues for buddha”, com uma capa cheia de mar, e onde estava escondida esta pequena grande pérola sob a forma de chuva.
ainda hoje a ouço, mesmo com tempo seco.




We dive into a dark doorway
Hiding from the clouds of grey
Oh babe, I don`t mind it at all
We stay close to one another
Laughing as we watch the waterfall

Rain Scottish Rain
I can feel your pulse beat so strong
Feel you warm and feel you young
Oh babe, like children once again
We stay close to one another
Captives of the Scottish Rain

Rain Scottish Rain
Hope it don`t rain all day
Rain Scottish Rain
We stay close to one another
Captives of the
Natives of the Scottish Rain
(Radioactive Rain)






26 janeiro 2012









janelas de lisboa









Para o meu coração...




Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.


És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.


Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.


Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.





Pablo Neruda













jardins gulbenkian





25 janeiro 2012






alguma da música que mais me marcou é feita de canções sem palavras...
uma delas é decerto a mui nobre e zappiana melancia em feno da páscoa - uma autêntica festa para os sentidos.
ainda me lembro do meu irmão ter comprado o album “joe’s garage” e do assombro que foi (e era… e é… e será sempre….) ouvir aquele genial e impossível jogo de guitarras – e sim, sou um privilegiado por ter ouvido uma vez este senhor a tocar isto ao vivo.




(sei que pouca gente acredita nisto, mas no dia dezassete de maio de mil novecentos e oitenta e oito estava mesmo em barcelona,
e sou uma das pessoas que está ali, na plateia do palau dels esports)
















um desejo chamado eléctrico





24 janeiro 2012





Mis libros



Mis libros (que no saben que yo existo)
son tan parte de mí como este rostro
de sienes grises y de grises ojos
que vanamente busco em los cristales
y que recorro com la mano cóncava.
No sin alguna lógica amargura
pienso que las palabras esenciales
que me expresan están en esas hojas
que no saben quién soy, no en las que he escrito.
Mejor así. Las voces de los muertos
Me dirán para siempre.




Jorge Luis Borges













janelas de lisboa









"To love oneself is the beginning of a life-long romance."




Oscar Wilde














cais da rocha









se há uma canção que seja um arquétipo para a essência dos anos sessenta, para mim é esta.
escrita por donovan leitch já no final da década, na citação da lenda de uma sociedade perfeita submersa pelas águas percebemos um lamento pela constatação da morte anunciada da geração
do amor e do flower power... ouço-a desde que me lembro.

(sim… também eu sou um ageing hippie…)




The continent of Atlantis was an island which lay before
the great flood in the area we now call the Atlantic Ocean.
So great an area of land, that from her western shores those
beautiful sailors journeyed to the South and the North Americas
with ease, in their ships with painted sails.
To the East Africa was a neighbour, across a short strait of sea miles.
The great Egyptian age is but a remnant of The Atlantian culture.
The antediluvian kings colonised the world
All the Gods who play in the mythological dramas
In all legends from all lands were from fair Atlantis.
Knowing her fate, Atlantis sent out ships to all corners of the Earth.
On board were the Twelve:
The poet, the physician, the farmer, the scientist,
The magician and the other so-called Gods of our legends.
Though Gods they were -
And as the elders of our time choose to remain blind
Let us rejoice and let us sing and dance and ring in the new
Hail Atlantis!
Way down below the ocean where I wanna be she may be,
Way down below the ocean where I wanna be she may be,
Way down below the ocean where I wanna be she may be.
Way down below the ocean where I wanna be she may be,
Way down below the ocean where I wanna be she may be.
My antediluvian baby, oh yeah yeah, yeah yeah yeah,
I wanna see you some day
My antediluvian baby, oh yeah yeah, yeah yeah yeah,
My antediluvian baby,
My antediluvian baby, I love you, girl,
Girl, I wanna see you some day.
My antediluvian baby, oh yeah
I wanna see you some day, oh
My antediluvian baby,
My antediluvian baby, I wanna see you
My antediluvian baby, gotta tell me where she gone
I wanna see you some day
Wake up, wake up, wake up, wake up, oh yeah
Oh glub glub, down down, yeah
My antediluvian baby, oh yeah yeah yeah yeah






23 janeiro 2012








alcainça









para voltar ao princípio do mundo



sei de uma mulher
que penteava os cabelos ao sol
porque tinha no pensamento uma flor

sei que os lavava ao luar
porque tinha no coração uma corola

com a boca mordia o ar
e prendia os vestidos ao vento

era uma mulher sentada numa pedra
coroada por um lírio salgado na fronte

um dia
cortou os cabelos
atirando-os um a um ao mar

e disse: tece-me

e o mar inclinou-se por dentro
para tecer

o poema





maria azenha













janelas de lisboa










este grande azul, hoje um standard, foi escrito pela célebre dupla harold arlen & johnny mercer em mil novecentos e quarenta e um, e destinava-se originalmente a ser cantado num filme. teve entretanto dezenas de interpretações e uma das que mais gosto é esta, de miss melua, que tem um arranjo com ênfase especial no contraste entre voz e harmónica e lhe dá um cunho mais azul.




My mamma done told me,
when I was in pigtails,
My mamma done told me, "Hon,
A man is a two-face,
he'll give you the big eye,
and when the sweet talking's done.
A man is a two-face,
a warrisome thing who'll leave you to sing,
The blues in the night."

Now the rains a-fallin',
hear the trains a-callin', "whooee!"
Hear that lonesome whistle
blowin' across the tresle, "whooee!"
a-whooee-ah-whooee, clickety-clack,
comes echoing back,
The blues in the night.

From Natchez to Mobile,
from Memphis to St. Joe
Wherever the four winds blow.
I've been in some big towns
and heard me some big talk,
But there is one thing I know.
A man is a two-face,
a warrisome thing who'll leave you to sing,
The blues in the night.

My mamma done told me,
when I was in pigtails,
My mamma done told me, "Hon,
A man is a two-face,
he'll give you the big eye,
and when the sweet talking's done.
A man is a two-face,
a warrisome thing who'll leave you to sing,
The blues in the night."

My mamma done told me.









"An artist is never ahead of his time - but most people are far behind theirs."




Edgard Varèse













rua das flores





22 janeiro 2012





a eternamente rouca e doce voz do jovem thomas torna mágica esta canção, que é talvez a minha preferida de todas quantas escreveu.
o estranho dueto de pianos (acústico e eléctrico) pauta a história, genialmente (d)escrita, da rapariga que está presa e envia num postal uma confissão que é um s.o.s. a um antigo namorado - e que, embora pouco convencional, é igualmente uma grande canção de natal... sempre que ouço isto dou graças aos deuses por ainda haver pessoas como tom waits.



hey charley i'm pregnant
and living on 9th street
right above a dirty bookstore
off euclid avenue
and i stopped taking dope
and i quit drinking whiskey
and my old man plays the trombone
and works out at the track.

and he says that he loves me
even though its not his baby
and he says that he'll raise him up
like he would his own son
and he gave me a ring
that was worn by his mother
and he takes me out dancin’
every saturday night.

and hey charley i think about you
everytime i pass a fillin' station
on account of all the grease
you used to wear in your hair
and i still have that record
of little anthony & the imperials
but someone stole my record player
how do you like that?

hey charley i almost went crazy
after mario got busted
so i went back to omaha to
live with my folks
but everyone i used to know
was either dead or in prison
so i came back to minneapolis
this time i think i'm gonna stay.

hey charley i think i'm happy
for the first time since my accident
and i wish i had all the money
that we used to spend on dope
i'd buy me a used car lot
and i wouldn't sell any of ‘em
i'd just drive a different car
every day dependin on how i feel.

hey charley for chrissakes
if you want to know the truth of it
i don't have a husband
he don't play the trombone
and i need to borrow money
to pay this lawyer and charley, hey
i'll be eligible for parole
come valentines day.











jardim da estrela











janelas de lisboa





21 janeiro 2012






Não sei se sabes
que a meio da manhã
o verde dos teus lábios
passou para as encostas
e um gomo transparente
adormeceu nos juncos e abriu.
Abriu um brilho qualquer
na gruta fria e pôs uma fogueira
pequenina numa taça
e elevou as mãos quentes
pelo dia.
talvez tu saibas que o principal
do amor
é uma montanha de efeitos secundários.





Rui Costa












convento do carmo










fábulas de lisboa




iii. elevador de santa justa




( lê-se melhor aqui )












tapada das necessidades











para ser sincero, devo confessar que há várias canções dos cure que são canções da minha vida. escolhi esta muito por causa da voz de robert smith (um eco de suave desespero) e sobretudo pela letra, com uma fabulosa associação: se ao menos pudéssemos dormir esta noite numa cama feita de flores/se ao menos pudéssemos cair esta noite num encantamento imortal//então um anjo viria... brilhante!






If only tonight we could sleep
In a bed made of flowers
If only tonight we could fall
In a deathless spell

If only tonight we could slide
Into deep black water
And breathe...
Then an angel would come
With burning eyes like stars
And bury us deep
In his velvet arms
And the rain would cry
As our faces slipped away
And the rain would cry
Don't let it end...






19 janeiro 2012





nem sempre são muito antigas as canções da minha vida.
algumas há que só recentemente ocuparam o seu espaço em mim - mas sei que aí vão ficar para sempre.
é o caso desta pérola mais-que-perfeita de miss gardot, ao mesmo tempo arquétipo e quintessência de um jazz elegante e cooooool...



How was I to know that this was always only just a little game to you?
All the time I felt you gave your heart I thought that I would do the same for you,
Tell the truth I think I should have seen it coming from a mile away,
When the words you say are, “Baby I’m a fool who thinks it’s cool to fall in love”

If I gave a thought to fascination I would know it wasn’t right to care,
Logic doesn’t seem to mind that I am fascinated by a love affair,
Still my heart would benefit from a little tenderness from time to time, but never mind,
Cos baby I’m a fool who thinks it’s cool to fall in love

Baby I should hold on just a moment and be sure it’s not for vanity,
Look me in the eye and tell me love is never based upon insanity,
Even when my heart is beating hurry up the moment's fleeting,
Kiss me now, don’t ask me how,

Cos baby I’m a fool who thinks it’s cool to fall,
Baby I’m a fool who thinks it’s cool to fall,
And I would never tell if you became a fool and fell in love.











mértola









O descascador de canela




Se eu fosse um descascador de canela
deitar-me-ia na tua cama
e deixaria o pó amarelo da casca
na tua almofada.

Os teus seios e os teus ombros cheirariam a canela
nunca mais poderias passar no mercado
sem a profissão dos meus dedos
flutuando por cima de ti. O cego tropeçaria
certo de quem se aproximava
mesmo que tomasses banho
na chuva das calhas, na monção.

Aqui no cimo da coxa
neste macio pasto
vizinho do teu cabelo
ou do sulco
que te divide as costas. Este tornozelo.
Serás conhecida entre os estranhos
como a mulher do descascador de canela.

Só a custo te podia ver
antes do casamento
nunca te toquei
- a tua mãe nariguda, os teus irmãos tão brutos.
Enterrei as minhas mãos
em açafrão, disfarcei-as com
alcatrão de tabaco
ajudei os apicultores a colher o mel…

Uma vez que estávamos a nadar
toquei-te na água
e os nossos corpos permaneceram livres,
podias segurar-me e ser cega de cheiro
Saltaste a margem e disseste

isto é como tu tocas as outras mulheres
a mulher do cortador de relva,
a filha do queimador de limão
E procuraste nas tuas mãos
o perfume desaparecido

e soubeste

como é bom
ser a filha do queimador de lima
deixada sem marca
como se lhe tivessem falado no acto do amor
como se ferida sem o prazer de uma cicatriz.

Roçaste o teu ventre nas minhas mãos
no ar seco e disseste
sou a mulher do descascador
de canela.
Cheira-me.




Michael Ondaatje












um desejo chamado eléctrico





18 janeiro 2012





há algumas canções dos sundays que têm este estranho efeito: apesar de serem melodias pop muito simples e fáceis de fixar (sei-as de cor), ainda hoje por vezes me surprendem por pormenores em que não tinha reparado. esta canção é mentirosa: neste caso, a história não acaba... e, devo confessar, também sou dos que ficaram apaixonados por harriet wheeler desde os anos noventa.




people i know, places i go, make me feel tongue-tied
i can see how people look down, they're on the inside
here's where the story ends
people i see, weary of me showing my good side
i can see how people look down, i'm on the outside
here's where the story ends
ooh here's where the story ends

it's that little souvenir of a terrible year
which makes my eyes feel sore
oh i never should have said, the books that you read
were all i loved you for
it's that little souvenir of a terrible year
which makes me wonder why
and it's the memories of your shed that make me turn red
surprise, surprise, surprise

crazy i know, places i go
make me feel so tired
i can see how people look down
i'm on the outside
oh here's where the story ends
ooh here's where the story ends

it's that little souvenir of a terrible year
which makes my eyes feel sore
and who ever would've thought the books that you brought
were all i loved you for
oh the devil in me said, go down to the shed
i know where i belong
but the only thing i ever really wanted to say
was wrong, was wrong, was wrong

it's that little souvenir of a colourful year
which makes me smile inside
so i cynically, cynically say, the world is that way
surprise, surprise, surprise, surprise, surprise
here's where the story ends
ooh here's where the story ends













janelas de lisboa










Conclusão




Fui amante da morte
e da beleza. Vi a loucura,
acreditei na vida.
Da infância falei
como lugar de abismo.
O prazer
foi também a grande fonte
de perturbação e alegria.
Lembrei as mulheres
que recusaram submeter-se,
escrevi palavras fúnebres.


Não poupei a adolescência,
o coração magoado
e não soube que fazer
de mim fora das palavras.
Escrevi para desistir
e depender
e ter identidade.





Isabel de Sá













jardins gulbenkian











esta também é antiga, mas é um instrumental de piano, e ainda por cima chamado "tom waits"... como resistir?









17 janeiro 2012






Meu amor, agarra-me pela mão. Não me largues agora. Temo bem que se o fizeres, me perderei de mim.

Meu amor, segura-me pela cintura. Não a soltes um minuto. Receio que se isso acontecer, não saberei mais onde acabam os meus dias e começa a noite de não te ter aqui.

Meu amor, prende-me ao tronco do teu corpo. Não me desamarres nunca. Tenho medo que se o descurares, o engula o abismo de quando acordar de ti.

Meu amor, cose-me os lábios com botões de rosa. Não deixes de o fazer. Se os não abotoares agora à minha boca, é possível que murchem em todos os jardins.

Meu amor, sela-me os ouvidos numa gaiola de pássaro. Fala-me sempre. Não os abandones à sorte dos ruídos de um mundo exterior a mim.

Meu amor, cega-me os olhos com o sol verde dos teus. Não desvies o olhar de mim. É que pode acontecer que eu perca o norte de não me poder guiar por onde eles me olham e assim não consiga regressar a ti.

Meu amor, desfigura-me o nariz. Impede-o de respirar para além de ti. Os odores e os perfumes são como frutos que apetece sempre comer.

Meu amor, corta-me as mãos. Não as deixes escrever mais. Tudo o que te possam dizer são sombras de uma clarividência que já não possuo.

Meu amor, corta-me as mãos.





Esparsa













calçada do ferragial












Writer’s block



The excitement I felt
as I started the poem
Disappeared on reaching
the end of the fourth line




Roger McGough












um desejo chamado eléctrico





16 janeiro 2012






gravado pelo sr. reed em mil novecentos e cinquenta e nove (um ano muitíssimo especial para mim), este é um dos primeiros azuis que me lembro de ouvir, num velho quarenta e cinco rotações que havia em casa de uns amigos.
ainda hoje o ouvi de novo e permanece com o mesmo brilho de um clássico inultrapassável.




também sempre achei que teria sido inolvidável ouvi-lo em dueto com a menina james, mas não creio que tal seja agora possível...



Got me running, got me hiding,
Got me run, hide, hide, run anyway you want to let it roll
yeah, yeah, yeah
You got me doin' what you want me
So baby why you want to let go

Going up, going down
Going up, down, down, up, anyway you want to let it roll
yeah, yeah, yeah
You got me doin' what you want me
So baby why you want to let go

Got me beeping, got me hiding
Got me beep, hide, hide, beep anyway you want to let it roll
yeah, yeah, yeah
You got me doin' what you want me
So baby why you want to let go















janelas de lisboa

















yes is a pleasant country:
if’s wintry
(my lovely)
let’s open the year


both is the very weather
(not either)
my treasure,
when violets appear


love is a deeper season
than reason;
my sweet one
(and april’s where we’re)









e. e. cummings



















alcainça












o primeiro disco de tom waits que ouvi foi este, duplo e gravado ao vivo, com o sugestivo título (que só mais tarde soube que era o de um célebre quadro de hopper) de "nighthawks at the diner"






entre as muitas grandes canções presentes, aquela que ainda ouço sempre com um arrepio é este estranho e viciante boletim meteorológico emocional:





late night and early morning low clouds
with a chance of fog
chance of showers into the afternoon
with variable high cloudiness
and gusty winds, gusty winds
at times around the corner of
sunset and alvarado
things are tough all over
when the thunder storms start
increasing over the southeast
and south central portions
of my apartment, i get upset
and a line of thunderstorms was
developing in the early morning
ahead of a slow moving coldfront
cold blooded
with tornado watches issued shortly
before noon sunday, for the areas
including, the western region
of my mental health
and the northern portions of my
ability to deal rationally with my
disconcerted precarious emotional
situation, it's cold out there
colder than a ticket taker's smile
at the ivar theatre on a saturday night
flash flood watches covered the
southern portion of my disposition
there was no severe weather well
into the afternoon, except for a lone gust of
wind in the bedroom
in a high pressure zone, covering the eastern
portion of a small suburban community
with a 1034 millibar high pressure zone
and a weak pressure ridge extending from
my eyes down to my cheeks cause
since you left me baby
and put the vice grips on my mental health
well the extended outlook for an
indefinite period of time until you
come back to me baby is high tonight
low tomorrow,
and precipitation is expected







14 janeiro 2012






fábulas de lisboa





ii. cais das colunas




( lê-se melhor aqui )














janelas de lisboa










o senhor kravitz é sobretudo conhecido como performer de um rock mais duro, mas aqui e ali tem escrito coisas mais pausadas, como é o caso desta grande balada, que apesar de ser de cisão e rompimento é a canção que associo sempre ao enamoramento.
ouvida anos e anos depois, constatam-se duas coisas: continua a ser uma canção imortal - e o enamoramento também.



I'm just a human
I never said I was God
And each day I wonder where you are
How could our lives once be so together
Now we're apart
I know we can make it
But where do we start?
Sometimes the scales get unbalanced
Don't you know the reason why?

The difference is why
The difference is why

You say you can't trust me
Have you tried?
You say you don't love me
That's a lie
There are so many so many rainbows
That we were to climb
But baby baby why can't we survive?
We've got to get our heads untangled
And free our state of mind

The difference is why
The difference is why

Sometimes the scales get unbalanced
Don't you know the reason why?

The difference is why
The difference is why
Does this have to mean goodbye?













rua das flores









Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.


Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.


Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.


Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.





Pablo Neruda











campo em besteiros