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01 janeiro 2022

 


 

 


As  visões  de  Hildegarda  de  Bingen

 

 

 


Até aos quarenta anos

insistiram em dar-me óculos para ver ao longe.
Depois dos quarenta anos,

insistiram em dar-me óculos para ver ao perto.

Vi mal metade da minha vida.

A outra metade? Também.

A paisagens enevoadas

sucederam-se ensonadas letras:
chovia entre mim e a realidade,

como se fosse Inverno sempre

e fosse o Norte sempre mais além.

 

Agora fecho os olhos, abatida,

e pergunto-me se saberei passar

do olhar à visão.

 

 

 


Gemma Gorga

 

 






28 junho 2021

 

 

 

 

A  magia  do  mel


 

 

 

Enquanto se orienta

entre as terminações

nervosas

da alfazema,

 

a abelha traduz

a língua das flores 

na língua do mel.

  

Na torrada de cada manhã

nós lemos

o nome do bosque

onde corremos em crianças.

 

 

 


 

Gemma Gorga

 

 




06 junho 2021


 



Como  saber  se  um  poema  funciona

 

 

 

Imagina uma casa japonesa:

 

através das paredes
de papel

do poema

 

hás-de poder ouvir

o silêncio do vizinho

a ler este poema.

 

 

 


Gemma Gorga

 

 





14 maio 2021

 


 

 

A  boa  educação

 



 

No verão em que ela fez sete anos
ofereceram-lhe um estojo de madeira

com um lápis e uma borracha.

 

O lápis, para que pudesse roer a mina

até encontrar o nervo vago

da palavra.

 

A borracha, para apagar a palavra

antes de a dizer.

 

 


 


Gemma Gorga


(tradução imperfeita minha)