30 dezembro 2019






desde que anoto os livros que leio (creio que comecei a fazê-lo
com a chegada do novo milénio) nunca tinha atingido um tão
grande número, parece-me mesmo inultrapassável nos anos mais
próximos. e, de novo, voltei a registar essas leituras no goodreads
em resumo: consegui ultrapassar a meta de 50 (foram 67 livros),
revisitar os contistas americanos (14 livros) e aumentar a quota
da poesia (32 livros). vontades para o ano que vem? se possível,
voltar a ler pelo menos cinco dezenas de livros, manter a presença
incontornável da poesia e ainda duas novidades: voltar a ler em
francês (tentei e gostei) e dedicar-me mais à leitura de teatro.











25 dezembro 2019





o  quarto  rosa



hoje reparei que a tira magenta
da embalagem de rivotril
combina com as paredes
do meu quarto rosa:
foi a primeira vez que me deram
comprimidos com algodão
menina, é dormir tudo o que eu quero
não é morte o que vim comprar
só preciso de algum descanso,
sabe,
vou confessar-lhe,
é a dormência nas mãos
momentos antes de adormecer
sobretudo adoro
não me preocupar mais
com as horas de sono
que me restam
com os dias de vida
que me gastam
isso e veja bem a harmonia das cores
a caixinha magenta
fica tão bem
no meu quarto rosa.




Francisca Camelo





22 dezembro 2019





a arrumar discos antigos, e como muitas vezes acontece,
voltei a ouvir coisas velhas dos who. esta canção, disse-me
um amigo que foi baixista numa banda, é considerada por muita
gente como a que possui o fraseado de baixo mais peculiar de todas:
parece sempre tratar-se de um instrumento ocupado numa espécie de
solo, independente e alheio à melodia que os restantes vão tocando. genial.










14 dezembro 2019






doenças  que  afligem  a  poesia



sem etiologia definida, a esclerose senil invadiu o poema
de início era quase imperceptível, pequenos lapsos aqui e
ali, faltas de concordância de pessoa ou género atribuíveis
a gralhas na impressão ou omissão de correcção ortográfica 
porém o decurso do tempo agravou os sintomas, inegáveis
os crescentes espaços em branco entre palavras, as muitas
 frases sem sentido, a incoerência desalinhada das estrofes
e até uma curiosa ode alusiva a certas doenças que afligem
a poesia ficou reduzida aos nove versos que acabaste de ler






04 dezembro 2019