30 abril 2021

 




leituras  de  abril






  


  


 


 


 


 






:: notas ::


pisces 

melissa broder

ed. bloomsbury

 

lucy (uma bolseira universitária do signo peixes) anda há anos a adiar a entrega de uma tese sobre a poesia de safo, chega ao fim de uma relação amorosa e vai até los angeles passar uns tempos a casa da irmã, em plena venice beach. após uma série de encontros sexuais (tão insatisfatórios quão hilariantes) encontra na praia um rapaz, theo, que está sempre dentro de água. então descobre que é um sereio (corpo de homem, pernas de peixe) e apaixona-se, claro. o sexo é irresistível e fantástico mas depois descobre um segredo... é uma daquelas histórias "only in california"? é. mas revela imaginação e está escrita com graça e humor.

 


 

a short history of drunkenness

mark forsyth

ed. penguin

 

diz-se que o álcool prejudica o raciocínio, reduz os reflexos e atenua as inibições. porém, não parece ser (só) por isso que gostamos de beber. o álcool é na verdade indissociável do meio cultural onde é ingerido e do papel social que se lhe atribui. esta breve história da embriaguez, repleta de factos, curiosidades e anedotas, inicia-se no tempo das cavernas (o homem ter-se-ia fixado não apenas pela agricultura mas também por ser difícil transportar bebidas...) e conta-nos histórias: hathor no antigo egipto, o simpósio grego e o convívio romano, passando pela bíblia, oriente e idade média, até ao aparecimento dos bares, a febre do gin, as leis secas... a ler de copo na mão, claro.

 








28 abril 2021


 

 

 

Árvore  e  poema

 


 

 

Aqui está uma árvore:

o vento canta poemas sem palavras
na sua ampla copa.

Sei

que o destino da árvore é transformar-se em papel:

um papel com ânsia de palavras

Sei

de uma palavra

com ânsia de se plasmar no papel

de uma palavra com ânsia de começar um poema

Sei

de um poema não escrito que tem ânsia da sua

primeira palavra

de um poema que tem ânsia do seu poeta

Mas sei também

que o poeta sofre

quando se abate a árvore para a transformar em papel.

 

 

 



Maria Wine

 

 





19 abril 2021

 


 

 

O  erro


 

 

 

O erro lambuza-nos como

compota de maçã

e ataca-nos até

à última

gota de melaço.

 

Hiperglicémicos

até ao acerto.

 

 

 


Maria F. Roldão

 

 





13 abril 2021





 

desenhar  caminhos  que  se  bifurcam

 

 

 

 

 

este tempo incréu foi incapaz de matar deuses



ei-los incandescentes na beleza de uma só frase

que o coração tenta validar repetindo palavras



essas que não foram feitas de tinta ou de letras 

e sim do sangue seco de ateus que nelas crêem



exercício de simplicidade e ritual de paciência

escrever é desenhar caminhos que se bifurcam







07 abril 2021

 



tive mais um sonho bizarro em que entrava o mark sandman:
desta vez estava-se numa esplanada, algures numa pequena vila
mexicana. ele aparecia vindo do nada e sentava-se na mesa onde
eu palrava com amigos. depois pegava numa garrafa de corona ali
pousada, dava duas grandes goladas, sorria e dizia-me: buena, buena












01 abril 2021

 









fábula  de  aurélia  e  albrecht

 



era primeiro de abril. pôs-se a imaginar uma história

de amor, toda ela passada no interior de um museu:

aurélia e albrecht, em paredes opostas da última sala,

olhavam-se fixamente, sem pestanejar, concentrados

e alheios a toda a gente que neles reparava. qualquer

visitante que ali passava sabia instintivamente haver

entre eles um amor impossível de pôr em palavras, e

por essa razão nada mais há a dizer sobre o assunto.

além disso era primeiro de abril, talvez fosse mentira.