31 janeiro 2023

 




leituras  de  janeiro




























:: notas ::

 

ofuscante

mircea cartarescu

ed. e-primatur

 

esta é a primeira parte da monumental trilogia em forma de mariposa, a sua asa esquerda. é sobretudo um exercício literário sobre a natureza e a condição humanas, disfarçado de viagem fictícia numa cidade mágica, que poderia replicar bucareste mas que se transforma num estranho mapa, onde encontramos um circo ambulante, uma seita obscura, um iluminado albino, um exército de zombies combatido por anjos bizantinos, agentes da polícia secreta, tapeçarias bizarras, mariposas gigantes e o som de um jazz subterrâneo - um mundo encantado que se visita como uma peregrinação interior. brilhante, cinco estrelas, venham os volumes seguintes.

 


how paris became paris

joan dejean

ed. bloomsbury

 

muita gente associa a modernização urbanística e arquitectónica de paris à enorme transformação levada a cabo no séc. xix e assinada pelo barão haussmann. porém, paris começou a ser paris muito mais cedo, mais de duzentos anos antes. quem visitasse a cidade em 1600 encontraria uma grande vila medieval, ainda amuralhada, com a notre dame e o louvre, é certo, mas um emaranhado de vielas estreitas, escuras e sujas. mas durante os reinados de henri iv, louis xiii e do rei sol, a cidade transformou-se basicamente naquilo que ainda é hoje. em cem anos viu nascer o pont-neuf (a primeira ponte larga, calcetada e com passeios), a place royale (hoje des vosges, a primeira praça pública aberta), uma ilha nova (a de st. louis, no local onde existiam duas ilhotas desabitadas) e a destruição das muralhas, substituídas pelos primeiros boulevards com árvores. e depois apareceu o pioneiro serviço postal, o primeiro transporte público e, sobretudo, o inovador sistema de iluminação nocturna. graças a isso tudo, poder passear pelas ruas (agora calcetadas e com passeios limpos) deu aos habitantes da cidade uma nova consciência urbana. e foi assim que paris se tornou paris. 


 

proust-monde

vv. aa.

ed. folio

 

cem anos após a sua morte, nunca proust foi tão lido, traduzido, comentado. porquê? não é um autor óbvio mas a sua prosa parece induzir uma qualquer atracção, tão magnética quanto difícil de definir. este livro reúne mais de oitenta textos de autores conhecidos que leram proust, em francês ou numa tradução. há a saga dos tradutores e as histórias dos realizadores que o tentaram adaptar ao cinema. depois, entre nomes como jorge luis borges, walter benjamin, lydia davis, ezra pound, stefan zweig, joseph conrad, umberto eco, samuel beckett, yukio mishima, aldous huxley, milan kundera ou virginia woolf, ficamos a saber os que o invejaram, o amaram e o detestaram. um mundo, pois.


 

i, mona lisa

natasha solomons

ed. hutchinson heinemann

 

mais do que um exercício engenhoso, esta é uma biografia imaginária cheia de imaginação. quem nos conta a história do retrato, de leonardo, do ambiente cultural, das rivalidades e traições é a própria mona lisa, a do quadro. e através dessa confissão, feita das suas próprias palavras, somos transportados ao longo de cinco séculos, desde um estúdio florentino até ao museu do louvre, passando por fontainebleau e versailles.


 

slaughterhouse-five

kurt vonnegut

ed. vintage

 

em tempos de guerra fui reler este clássico, baseado numa espécie de reminiscência de um soldado americano que presenciou o bombardeamento de dresden no final da segunda guerra mundial. até hoje continua a ser um dos melhores textos a mostrar o horror e a inutilidade de qualquer conflito bélico entre nações. e esta é uma das resoluções de leitura para este ano: voltar a ler e reler clássicos, sempre que possível na língua original.

 

 

les différentes régions du ciel

christian bobin

ed.gallimard

 

antologia de mil páginas sobre um dos meus autores preferidos e recentemente desaparecido. entre alguns outros livros, estão aqui incluídos ‘le très-bas’, ‘la plus que vive’, ‘la présence pure’, ‘une petite robe de fête’, ‘autoportrait au radiateur’, ‘la nuit du coeur’ e ainda um texto inédito sobre o creusot, a sua região natal. para mim ficou a faltar ‘un bruit de balançoire’. bobin é mais um daqueles poetas em prosa a que cheguei demasiado tarde, mas gosto de pensar que talvez ainda a tempo.








22 janeiro 2023

 



 

 

 

Toalhas  brancas

 

 

 

 

Estive a estudar a diferença
entre isolamento e solidão,

contando a história da minha vida
às toalhas brancas lavadas e tiradas quentes do secador.

Levo-as através da casa

como se fossem filhas minhas
adormecidas nos meus braços.




 

Richard Jones

 

 

 




(tradução minha)

13 janeiro 2023

10 janeiro 2023

 

 


 

Apanha um galho, divide-o em duas partes:
Na de baixo talha uma mulher,

na de cima um homem.

E fricciona-as, fricciona-as 

até conseguires acender um fogo.

 

Então, Ramanatha,

esclarece-me esta dúvida:

o fogo é masculino ou feminino?

 

 

 



Jedara Dasimayya

 

 






07 janeiro 2023

 




no fundo do baú fui encontrar um disco de rené marie
e já nem me lembrava de como isto é tão mas tão bom












01 janeiro 2023



 

 

 

Esta noite poderia escrever os versos mais tristes
se os versos fossem a solução para a coisa.

 

 

 


Cristina Peri Rossi