29 dezembro 2021

 





leituras  de  dezembro





 


 


 


 




:: notas ::


the cat who saved books

sosuke natsukawa

ed. picador

 

um adolescente acaba de perder o seu avô, o dono de uma livraria especial. herdeiro sem rumo encontra um gato que lhe propõe a resolução de alguns labirintos onde há sempre livros em perigo. e, com a ajuda de uma colega, embarcam os três numa jornada de aventura e mistério, rumo a uma solução aparentemente distante mas que esteve sempre bem próxima. bela fábula sobre o poder dos livros e a descoberta de um eu interior.

  


 

poetas de dante (visita ao inferno)

vv. aa.

ed. tinta-da-china

 

ideia ovo-de-colombo de alberto manguel: convidar trinta e quatro poetas portugueses (consagrados e recém-chegados) para ecoar e recriar em poemas originais as suas visões pessoais dos trinta e quatro cantos do inferno de la divina commedia. setecentos anos após a morte de dante alighieri o resultado da visita é necessariamente desigual - até porque nunca todos poderiam abordar o tema da mesma forma -  mas o conjunto nunca desilude, havendo mesmo algumas surpresas, inesperadas e bem conseguidas.

 

 

 

the madman's library

edward brooke-hitchings

ed. simon & schuster

 

para um bibliófilo como eu, nada melhor do que um livro sobre livros. ora imagine-se uma biblioteca coligida por um louco, alguém que apenas deseja coleccionar livros bizarros... pois muitos deles são revelados nesta belíssima edição, profusamente ilustrada, de uma ideia genial e brilhante: reunir livros mágicos, livros que matam, livros escritos a sangue, encadernados com pele humana, livros invisíveis, com títulos estranhos, livros minúsculos, outros gigantescos, livros falsos e muitos repletos de enigmas. como não desejar saboreá-los todos?

 

 

 



:: ::


num balanço final, dizer ainda que, graças aos confinamentos impostos e voluntários,
este ano repetiu muito o anterior: foi decerto um daqueles em que mais li, e fui apontando
os livros no goodreads. faltam alguns, por vezes os melhores, uma vez que muitos editores
independentes rejeitam (e bem) o isbn e as suas obras não integram as bases de dados.
como sempre, voluntariamente não comprei nenhum dos escritos/traduzidos em acordês.

de referir que novelas e poesia tiveram a parte de leão, com cerca de quarenta títulos cada;
e quase trinta de autores japoneses. nas inevitáveis resoluções para o ano que se segue:
repetir a poesia como sempre - e novelas, contos, teatro, etc.. mas desta vez vou tentar ler
mais biografias e, sobretudo, alguns daqueles clássicos intemporais que muitas vezes
sinto terem ficado preteridos ou mesmo esquecidos na minha incompletável bucket list.







14 dezembro 2021

 




 

o poema

não é

uma esfinge

à espera
de ser interrogada

é um campo de batalha

que deve ser conquistado

e todos os métodos

são legítimos

 

 

 



José Pedro Moreira

 

 






06 dezembro 2021

 


 

razões  que  a  própria  razão  desconhece

 



 

pensou em começar de imediato com uma citação

e ocorreram-lhe os pensamentos de pascal, é sabido

que o velho blaise assegura sempre belos impactos.

não tanto a estafada frase do coração ter razões que

a própria razão desconhece mas, dado tratar-se de

uma comunicação a propósito da racionalidade no

momento da decisão, talvez aquela alegoria dúplice

dos dois excessos, excluir a razão e admitir apenas a

razão. sim, muito adequada ao tema. ou então, para

aliviar o ambiente geral da reunião, poderia ainda

optar por uma mera insinuação literária, recurso

infalível e garantido, evocando a frase de séneca

sobre o escutar da razão, abandonando tudo o que

seduz a multidão. ou mesmo declamar um só verso,

como aquele do pessoa: guia-me a só razão, não me

deram mais guia. ouviu entretanto anunciar o seu

nome, já deviam ser horas, sentiu que alguém ia

caminhando ao seu lado, conduzindo-o para um

estrado. e depois ouviu aplausos, abriu um pouco

a boca e, sem que nada o fizesse prever, soltou um

ligeiro e quase imperceptível bocejo. não de tédio

ou fome, apenas um sinal do corpo relembrando

que um desfile é tão mundano quão efémero e a

vaidade alvo de punição, pelo que deveria tentar

ocupar o resto da manhã a lamber-se ou farejar a

calçada, sabem como é, a ser apenas um sereno

basset, ouvindo as pedras, de orelhas pelo chão.