razões que a própria razão desconhece
pensou em começar de imediato com uma citação
e ocorreram-lhe os pensamentos de pascal, é sabido
que o velho blaise assegura sempre belos impactos.
não tanto a estafada frase do coração ter razões que
a própria razão desconhece mas, dado tratar-se de
uma comunicação a propósito da racionalidade no
momento da decisão, talvez aquela alegoria dúplice
dos dois excessos, excluir a razão e admitir apenas a
razão. sim, muito adequada ao tema. ou então, para
aliviar o ambiente geral da reunião, poderia ainda
optar por uma mera insinuação literária, recurso
infalível e garantido, evocando a frase de séneca
sobre o escutar da razão, abandonando tudo o que
seduz a multidão. ou mesmo declamar um só verso,
como aquele do pessoa: guia-me a só razão, não me
deram mais guia. ouviu entretanto anunciar o seu
nome, já deviam ser horas, sentiu que alguém ia
caminhando ao seu lado, conduzindo-o para um
estrado. e depois ouviu aplausos, abriu um pouco
a boca e, sem que nada o fizesse prever, soltou um
ligeiro e quase imperceptível bocejo. não de tédio
ou fome, apenas um sinal do corpo relembrando
que um desfile é tão mundano quão efémero e a
vaidade alvo de punição, pelo que deveria tentar
ocupar o resto da manhã a lamber-se ou farejar a
calçada, sabem como é, a ser apenas um sereno
basset, ouvindo as pedras, de orelhas pelo chão.
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