27 abril 2020







Sobre  a  palavra





Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece

Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama

Assim se morre dizias tu
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura

Na porosa fronteira do silêncio
a mão ilumina a terra inacabada

Interminavelmente







Eugénio de Andrade








21 abril 2020






a recordar os saudosos timbuk3, dei por mim a desejar que o futuro
fosse tão brilhante que tivéssemos mesmo de usar uns óculos de sol











15 abril 2020






não sei dançar. mas, quando ouço esta canção
cantada por helen forrest com a orquestra de
harry james, devo confessar: apetece-me tanto









12 abril 2020





partes  de  mim




lisboa é uma cidade em que é fácil perderes-te.
comigo passou-se assim: andava pelas calçadas
a pensar nas mesmas pedras pisadas pelo eça e
pelo cesário, depois via irmãos pessoa em todo
o lado, o bernardo nas arcadas do terreiro do
paço, o álvaro no elevador de santa justa. mas
o pior foi quando comecei a perder partes de
mim, deixava a cabeça no castelo ou o ombro
no cais das colunas. durante um tempo ainda
conseguia recuperar certas peças nos perdidos
e achados, mas depois desisti, o que aparecia
por lá eram partes de outros, esquecidas aqui
e ali, restituídas anonimamente. e agora não
sei quem sou, nem onde possa estar. acredita
que foi apenas uma mão quem escreveu isto.






01 abril 2020






há para mim canções irresistíveis no chamado american songbook.
esta é uma delas - e a primeira vez que a ouvi foi em "annie hall", o
clássico filme de woody allen, cantada por diane keaton num bar.
existem inúmeras versões mas esta, talvez pelo arranjo dos sopros
e das vozes, é a minha preferida. e, nestes dias, os velhos tempos...