12 abril 2018





{ a  fábula  que  a  minha  mãe  merecia }





era uma lenda fabulosa, em que a minha mãe me contava histórias
enquanto passava a sua doce mão pela minha cabeça. narrativas e
viagens jamais realizadas mas que, por uma outra mão, a da sua voz,
aconteciam mesmo, caminhadas escritas com essas mesmas palavras.
e eu queria como o almada que ela atasse as suas mãos às minhas e
desse um nó cego e muito apertado, para nunca delas me separar. as
suas mãos eram o meu refúgio e todo um mundo ainda por descobrir,
quando ela passava a sua mão pela minha cabeça era tudo tão verdade.
mas depois senti que a tinha traído, porque o eugénio me lembrou que
ao crescer tinha deixado de ser o retrato adormecido no fundo dos seus
olhos meigos, embora eu ainda fosse aquele menino que adormecera
no seu olhar. o meu corpo é que crescera, saíra da moldura e voara com
as aves. só queria que soubesses que não me esqueci de nada, mãe, as
tuas mãos continuam nas minhas, as histórias hão-de ser escritas e nem
as palavras se perderam, pois guardei sempre a tua voz dentro de mim.






5 comentários:

  1. :
    in memoriam
    leonor (1924-2018(

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  2. ... a doçura, josé luís :) ...

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  3. Que bela homenagem...
    Que belo nome ...
    Que bela idade...
    (o meu pai também nasceu em 24... mas deixou-nos há já dez anos atrás)
    Lamento a tua perda Luís. Mas sinto que não a perdeste porque a tens em ti.

    Um beijinho com carinho

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  4. Para além da tristeza que deve sentir...estas conversas com os poetas são bem bonitas, é um jogo interessante entre si e eles. Vou levar para uma sessão de formação.
    ~CC~

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