31 outubro 2024

 
 




leituras  de  outubro























:: notas :: 


 

the memory police

yoko ogawa

ed. vintage

 

numa ilha as coisas começam a desaparecer, primeiro chapéus, depois os pássaros e as rosas. e todos vivem com medo da polícia da memória, que draconianamente assegura o esquecimento de tudo aquilo que desapareceu. uma jovem escritora, consciente de que o seu editor vai ser perseguido, esconde-o em sua casa. mas depois os desaparecimentos tornam-se mais complexos e só a sua escrita pode preservar o passado... grande novela sobre o trauma da perda e o poder da memória, numa distopia inesperada e asfixiante.

 


the art thief

michael finkel

ed. simon & schuster

 

relato do percurso de vida de stéphane breitwieser, um personagem que encarna um enigma ainda hoje por explicar. durante alguns anos conseguiu furtar de museus, galerias e lojas centenas de obras de arte, algumas de elevadíssimo valor. nunca procurou as peças mais famosas (quadros ou estátuas) e nunca as colocou à venda no mercado clandestino - apenas as reuniu num sótão, o seu museu particular. foi por fim apanhado e continuam sem resposta perguntas como: mero coleccionador cleptomaníaco? mestre na arte do furto? sociopata dissimulado?  

 


enublado dizes

marcos foz

ed. bestiário

 

é interessante a comparação com “arca e usura”, o anterior livro-poema do autor. naquele havia como o início de um filme-viagem, com a câmara num longo travelling entre memórias passadas (arca) que cobram juros presentes (usura). aqui adensa-se uma sensação de filme-drama, belo e terrível: os projectores apontam para a máquina registadora do mercantilismo vigente, o actor sabe as suas linhas de cor mas hesita, sente-se como o kafkiano agrimensor perante o impenetrável castelo, presa fácil de matilhas (de) selvagens que o perseguem, enredado por fábulas sobre nada. e que filme é este? que comunidade cinéfila é esta, tão pouco moral afinal? e no final, um close-up como resignação redentora?

 


collected stories - vol. 2

henry james

ed. everyman’s library

 

segundo volume dos contos e novelas curtas de james, abrangendo o período de 1892 a 1910. já li o estranho “owen wingrave”, uma variação sobre a tradicional ghost story e tive uma surpresa com “the middle years”, james no seu melhor; entre estas mil páginas estão aqui também obras-primas como “the turn of the screw” e “the beast in the jungle”.

 


asa: the girl who turned into a pair of chopsticks

natsuko imamura

ed. faber & faber

 

o universo de imamura no seu melhor: três curtas novelas marcadas por inícios que nunca correspondem aos finais, pela dicotomia real-surreal e pela alienação resultante de desejos não satisfeitos. uma rapariga quer alimentar as pessoas mas ninguém aceita - acaba por transformar-se em árvore e depois em pauzinhos que por fim levam comida à boca das pessoas. outra rapariga nunca é atingida pelos objectos que lhe atiram - acaba por auto-infligir violência e dor. uma terceira rapariga só quer estar deitada no chão, rastejando se necessário - acaba por encontrar um rapaz que faz o mesmo e...

 


cursed bunny

bora chung

ed. honford star

 

conjunto de contos de uma das novas estrelas da literatura coreana, que desafia os géneros tradicionais misturando ficção científica, fantástico, terror, realismo mágico, suspense e surrealismo (e algo mais). alguns são verdadeiramente surpreendentes e, talvez por isso, outros ficam um pouco aquém.

 

 






29 outubro 2024

 




...e a propósito do (fabuloso) concerto de ontem
andei a (re)ouvir coisas antigas do pregador nicolau











04 outubro 2024

 




uma canção de bryan ferry (e de brian eno) que
voltou do passado e de que continuo a gostar











01 outubro 2024



 



leituras  de  setembro























:: notas :: 



the housekeeper and the professor

yoko ogawa

ed. vintage

 

novela-maravilha que nunca perde o brilho: uma cuidadora é contratada para gerir a casa (e a vida) de um ex-professor de matemática. este, devido a um acidente, apenas recorda os últimos oitenta minutos que passaram. como se vive com alguém cuja memória é tão curta mas para quem os números mantêm a magia de sempre? 

 


o salão vermelho

august strindberg

ed. e-primatur

 

por fim li este clássico.

 


op oloop

juan filloy

ed. snob

 

uma pequena delícia. acompanhamos o último dia de alguém cuja vida é regida segundo um calendário metódico, preciso e rígido, com tudo – desde refeições até visitas a bordéis – cronometrados ao minuto. porém, quando um atraso insignificante perturba este calendário sagrado no dia da festa de noivado do protagonista, o relógio parece apontar para uma desgraça inexorável. tal como leopold bloom na dublin de joyce, optimus oloop percorre uma bueno aires mitificada onde o tempo se descontrolou...

 


music stories

vv. aa.

ed. everyman’s library

 

mais uma colectânea-maravilha da everyman’s, um ovo-de-colombo em reuniões de contos, trechos, textos e poemas dedicados a um tema comum. neste caso é a música, ao som das palavras de woolf, proust, barthelme, flaubert, joyce, nabokov, mansfield, ishiguro e muitos mais.


 

a estrada

manu larcenet / cormac mccarthy

ed. ala dos livros

 

não sou grande fã de novelas gráficas (como se diz agora) mas esta é uma excepção. e excepcional, há muito tempo que não via um desenhador conseguir captar tão bem a essência de um livro.


 

persians : the age of the great kings

lloyd llewellyn-jones

ed. wildfire

 

ciro, dario, xerxes... eram nomes mágicos quando estudávamos o império persa nos tempos do liceu, que parecia sempre estar aquém do grego e do romano. este livro, muito bem escrito, dá-nos um retrato bem mais fiel da realidade (lembrar que a maioria do que até nós chegou foi relatado pelos gregos, que sempre menorizaram os persas).