13 setembro 2021

 


 


íamos  pelos  nossos  dedos




pois eu sou do tempo em que, uma vez por ano,

tocavam à campainha dois homens que vinham

trocar as listas telefónicas, que ainda eram dois

volumes pesados, um com páginas brancas e o

outro das saudosas amarelas, onde íamos pelos

nossos dedos, intrépidos exploradores absortos

em inesquecíveis viagens comerciais. depois, já

com a nova lista nas mãos, procurava a letra v

e voltava a confirmar a ausência de assinantes

lisboetas com o apelido vinho. havia imensos

vinhas, dois ou três vinha e um único vinhal,

porém nenhum vinho. por que razão perdia

tempo precioso em tão fútil inquérito, ouço

perguntar. pois bem, apenas porque da lista

constavam alguns senhores de apelido verde

e muitos mais de sobrenome branco e eu, na

minha juvenil condição de ignorante da rara

preciosidade do tempo, esbanjava-o a pensar

nos apelidos das crianças que poderiam um

dia nascer da união de uma senhora vinho

com um senhor verde ou branco. parvoíces.







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