novas cartas de marear
16 outubro 2024
04 outubro 2024
01 outubro 2024
the housekeeper and the professor
yoko ogawa
ed. vintage
novela-maravilha que nunca perde o brilho: uma cuidadora é contratada para gerir a casa (e a vida) de um ex-professor de matemática. este, devido a um acidente, apenas recorda os últimos oitenta minutos que passaram. como se vive com alguém cuja memória é tão curta mas para quem os números mantêm a magia de sempre?
o salão vermelho
august strindberg
ed. e-primatur
por fim li este clássico.
op oloop
juan filloy
ed. snob
uma pequena delícia. acompanhamos o último dia de alguém cuja vida é regida segundo um calendário metódico, preciso e rígido, com tudo – desde refeições até visitas a bordéis – cronometrados ao minuto. porém, quando um atraso insignificante perturba este calendário sagrado no dia da festa de noivado do protagonista, o relógio parece apontar para uma desgraça inexorável. tal como leopold bloom na dublin de joyce, optimus oloop percorre uma bueno aires mitificada onde o tempo se descontrolou...
music stories
vv. aa.
ed. everyman’s library
mais uma colectânea-maravilha da everyman’s, um ovo-de-colombo em reuniões de contos, trechos, textos e poemas dedicados a um tema comum. neste caso é a música, ao som das palavras de woolf, proust, barthelme, flaubert, joyce, nabokov, mansfield, ishiguro e muitos mais.
a estrada
manu larcenet / cormac mccarthy
ed. ala dos livros
não sou grande fã de novelas gráficas (como se diz agora) mas esta é uma excepção. e excepcional, há muito tempo que não via um desenhador conseguir captar tão bem a essência de um livro.
persians : the age of the great kings
lloyd llewellyn-jones
ed. wildfire
ciro, dario, xerxes... eram nomes mágicos quando estudávamos o império persa nos tempos do liceu, que parecia sempre estar aquém do grego e do romano. este livro, muito bem escrito, dá-nos um retrato bem mais fiel da realidade (lembrar que a maioria do que até nós chegou foi relatado pelos gregos, que sempre menorizaram os persas).
27 setembro 2024
03 setembro 2024
30 agosto 2024
other people’s countries
patrick mcguiness
ed. random house
no final deste relato da memória de uma infância vivida em parte numa pequena vila belga no coração das ardenas (afinal uma memória de uma memória...), o autor resume tudo numa frase magnífica: “what I want to say is: i misremember all this so vividly it’s as if it only happened yesterday”. e é isso mesmo.
o espaço literário
maurice blanchot
ed. snob
este brilhante ensaio, necessariamente fragmentário, parece à primeira vista uma reflexão sobre a criação literária e artística e o poder da palavra. porém, através dos exemplos de algumas obras de mallarmé, kafka, hölderlin e rilke, encontramos algo mais profundo: a obscuridade interior inerente ao artista, a solidão criativa do escritor, a experiência antecipada do fim da vida (o capítulo dedicada a rilke e à morte é qualquer coisa...). uma meditação crítica sem paralelo, que há muito merecia uma tradução moderna em português são e escorreito.
uma só carne com a noite
vv. aa. (trad. vasco gato)
ed. língua morta / flâneur
muitas centenas de poemas vertidos para português.
beyond the sea
paul lynch
ed. oneworld
um homem e um rapaz arriscam uma saída à pesca num pequeno o barco. uma tempestade afasta-os da costa e perdem a hipótese de comunicar com terra. os dias transformam-se em semanas e estas em meses - e os dois enfrentam todas as situações-limite imagináveis.
the diving pool
yoko ogawa
ed. vintage
regresso ao estranho e sempre surpreendente universo de ogawa...
ramesses the great
toby wilkinson
ed. yale univ. press
biografia do que é considerado por muitos o maior faraó de todos. com a morte prematura de tutankhamon e a inevitável extinção da décimo-oitava dinastia, surge uma família de militares que ocupa e mantém o poder. o segundo ramesses (usermaatra, que os gregos deturparam para ozymandias) foi um deus-vivo durante seis décadas e, com ele, a perpetuação do poder um exercício permanente. fascinante nos tempos actuais.
26 agosto 2024
04 agosto 2024
01 agosto 2024
Istambul
Não sabia que um dia
te compararia a esta cidade.
Também não sabia que viria visitá-la sozinho
nem que te escreveria esta carta
para te dizer
que quando está frio num país de calor,
penso em ti.
Que quando vendem
no bazar fruta que não é da época,
penso em mim.
Que quando alguém paga mais do que deve
e é enganado por não saber o troco,
penso em nós.
Manuel Forcano
31 julho 2024
kind of blue : miles davis and the making of a masterpiece
ashley kahn
ed. granta
biografia de um disco, seguramente um dos poucos discos da minha vida. quem me dera ter lá estado (mas nasci entre as sessões de gravação e o lançamento do album)...
david copperfield
charles dickens
ed. everyman’s library
vi há dias uma das últimas adaptações cinematográficas e fui reler trechos deste livro, em mais uma etapa do saboroso regresso a dickens.
camões, uma antologia
frederico lourenço
ed. quetzal
em ano de comemoração de mais um centenário camoniano, só cito este livro por o mesmo me ter sido oferecido - dado que jamais compraria um livro escrito em acordês. o caso é especialmente grave quando se trata de um académico que salienta a influência latina clássica (vergílio, horácio, etc.) na obra do poeta, e sujeita as transcrições da sua poesia a essa execrável novilíngua. depois, os comentários do professor são deploráveis, eivados de crítica estafada ao “imperialismo”, “escravatura”, “apropriação fascista”, etc., caindo na armadilha fácil e pouco inteligente de criticar um tempo e uma obra segundo os valores actuais, como se tivesse medo de ser criticado por não ser suficientemente “modernaço”... leitor, faz um favor a ti mesmo: lê camões numa edição clássica, não esta. essa é a melhor (e em bom rigor a única) maneira de o celebrar.
collected stories
william faulkner
ed. vintage
já conhecia a maior parte dos contos aqui presentes, mas esta colectânea de 42 histórias, seleccionadas pelo próprio faulkner para um único volume e agrupadas por temas, realça os seus motivos preferidos: a solidão, a luta perante a terra e os costumes, o sul e as suas desigualdades e tensões. quase na véspera do lançamento de um volume de contos de caldwell por mim traduzidos, foi bom regressar a este universo.
shakespeare and company
sylvia beach
ed. univ. nebraska press
esta memória é a biografia da verdadeira shakespeare and company (não confundir com a livraria/loja turística, situada perto do sena, que herdou o mesmo nome), narrada pela sua fundadora, sylvia beach - a famosa livreira que publicou a primeira edição do ‘ulysses’ de joyce, e o livro contém pormenores curiosos desse processo editorial. a livraria nasceu em 1919 no nº 8 da rue dupuytren, mudou-se pouco tempo depois para o famoso nº 12 da rue de l’ódeon e, com o decorrer dos anos foi um local mítico de encontro de escritores anglófonos (joyce, hemingway, stein, fitzgerald, pound, eliot) e também francófonos (gide, romains, aragon, valéry), até fechar as portas na 2ª guerra mundial.
prophet song
paul lynch
ed. oneworld
grande novela, vencedora do man booker prize, sobre uma estranha e perturbadora distopia política. num futuro próximo um governo resolve criar uma polícia política e começar a fazer desaparecer todos os opositores - e uma mãe de quatro filhos vê desaparecer um a um os membros da sua família. há limites para a coragem e o instinto de preservação e sobrevivência?
the analog sea review, number four
vv. aa.
ed. analog sea
é o mais recente número deste 'journal off-line', dedicado à necessidade de uma nova era de renascimento, num paralelo com a procura da paz, amor e liberdade dos anos 60, a consciência do eu interior e os paradoxos do tempo - numa colecção de textos, poemas e imagens de nomes como beckett, didion, ferlinghetti, camus, thoreau, benjamin, tokarczuk, woolf, picasso, vallotton e, como sempre, numa edição primorosa.
diógenes, o cão
paul hervieu
ed. e-primatur
biografia de diógenes de sinope, o asceta que vivia num barril e à luz do dia, de vela acesa procurava um homem. curiosíssimo como o seu cinismo permanece actual, talvez mais actual do que nunca...
24 julho 2024
Teoria do caos
Na superfície
da minha pele humana
há restos
de saliva, beijos, carícias, mordidelas,
esperma,
chupões,
cortes, feridas, golpes, chagas,
suor, cicatrizes,
esfoladelas, sangue, crostas, pisaduras, lesões,
arranhões,
bofetadas,
varizes, bolhas e queimaduras.
Não preciso de perfurações nem de tatuagens,
o meu corpo
é um mapa.
Anna Gual