13 novembro 2024

31 outubro 2024

 
 




leituras  de  outubro























:: notas :: 


 

the memory police

yoko ogawa

ed. vintage

 

numa ilha as coisas começam a desaparecer, primeiro chapéus, depois os pássaros e as rosas. e todos vivem com medo da polícia da memória, que draconianamente assegura o esquecimento de tudo aquilo que desapareceu. uma jovem escritora, consciente de que o seu editor vai ser perseguido, esconde-o em sua casa. mas depois os desaparecimentos tornam-se mais complexos e só a sua escrita pode preservar o passado... grande novela sobre o trauma da perda e o poder da memória, numa distopia inesperada e asfixiante.

 


the art thief

michael finkel

ed. simon & schuster

 

relato do percurso de vida de stéphane breitwieser, um personagem que encarna um enigma ainda hoje por explicar. durante alguns anos conseguiu furtar de museus, galerias e lojas centenas de obras de arte, algumas de elevadíssimo valor. nunca procurou as peças mais famosas (quadros ou estátuas) e nunca as colocou à venda no mercado clandestino - apenas as reuniu num sótão, o seu museu particular. foi por fim apanhado e continuam sem resposta perguntas como: mero coleccionador cleptomaníaco? mestre na arte do furto? sociopata dissimulado?  

 


enublado dizes

marcos foz

ed. bestiário

 

é interessante a comparação com “arca e usura”, o anterior livro-poema do autor. naquele havia como o início de um filme-viagem, com a câmara num longo travelling entre memórias passadas (arca) que cobram juros presentes (usura). aqui adensa-se uma sensação de filme-drama, belo e terrível: os projectores apontam para a máquina registadora do mercantilismo vigente, o actor sabe as suas linhas de cor mas hesita, sente-se como o kafkiano agrimensor perante o impenetrável castelo, presa fácil de matilhas (de) selvagens que o perseguem, enredado por fábulas sobre nada. e que filme é este? que comunidade cinéfila é esta, tão pouco moral afinal? e no final, um close-up como resignação redentora?

 


collected stories - vol. 2

henry james

ed. everyman’s library

 

segundo volume dos contos e novelas curtas de james, abrangendo o período de 1892 a 1910. já li o estranho “owen wingrave”, uma variação sobre a tradicional ghost story e tive uma surpresa com “the middle years”, james no seu melhor; entre estas mil páginas estão aqui também obras-primas como “the turn of the screw” e “the beast in the jungle”.

 


asa: the girl who turned into a pair of chopsticks

natsuko imamura

ed. faber & faber

 

o universo de imamura no seu melhor: três curtas novelas marcadas por inícios que nunca correspondem aos finais, pela dicotomia real-surreal e pela alienação resultante de desejos não satisfeitos. uma rapariga quer alimentar as pessoas mas ninguém aceita - acaba por transformar-se em árvore e depois em pauzinhos que por fim levam comida à boca das pessoas. outra rapariga nunca é atingida pelos objectos que lhe atiram - acaba por auto-infligir violência e dor. uma terceira rapariga só quer estar deitada no chão, rastejando se necessário - acaba por encontrar um rapaz que faz o mesmo e...

 


cursed bunny

bora chung

ed. honford star

 

conjunto de contos de uma das novas estrelas da literatura coreana, que desafia os géneros tradicionais misturando ficção científica, fantástico, terror, realismo mágico, suspense e surrealismo (e algo mais). alguns são verdadeiramente surpreendentes e, talvez por isso, outros ficam um pouco aquém.

 

 






29 outubro 2024

 




...e a propósito do (fabuloso) concerto de ontem
andei a (re)ouvir coisas antigas do pregador nicolau











04 outubro 2024

 




uma canção de bryan ferry (e de brian eno) que
voltou do passado e de que continuo a gostar











01 outubro 2024



 



leituras  de  setembro























:: notas :: 



the housekeeper and the professor

yoko ogawa

ed. vintage

 

novela-maravilha que nunca perde o brilho: uma cuidadora é contratada para gerir a casa (e a vida) de um ex-professor de matemática. este, devido a um acidente, apenas recorda os últimos oitenta minutos que passaram. como se vive com alguém cuja memória é tão curta mas para quem os números mantêm a magia de sempre? 

 


o salão vermelho

august strindberg

ed. e-primatur

 

por fim li este clássico.

 


op oloop

juan filloy

ed. snob

 

uma pequena delícia. acompanhamos o último dia de alguém cuja vida é regida segundo um calendário metódico, preciso e rígido, com tudo – desde refeições até visitas a bordéis – cronometrados ao minuto. porém, quando um atraso insignificante perturba este calendário sagrado no dia da festa de noivado do protagonista, o relógio parece apontar para uma desgraça inexorável. tal como leopold bloom na dublin de joyce, optimus oloop percorre uma bueno aires mitificada onde o tempo se descontrolou...

 


music stories

vv. aa.

ed. everyman’s library

 

mais uma colectânea-maravilha da everyman’s, um ovo-de-colombo em reuniões de contos, trechos, textos e poemas dedicados a um tema comum. neste caso é a música, ao som das palavras de woolf, proust, barthelme, flaubert, joyce, nabokov, mansfield, ishiguro e muitos mais.


 

a estrada

manu larcenet / cormac mccarthy

ed. ala dos livros

 

não sou grande fã de novelas gráficas (como se diz agora) mas esta é uma excepção. e excepcional, há muito tempo que não via um desenhador conseguir captar tão bem a essência de um livro.


 

persians : the age of the great kings

lloyd llewellyn-jones

ed. wildfire

 

ciro, dario, xerxes... eram nomes mágicos quando estudávamos o império persa nos tempos do liceu, que parecia sempre estar aquém do grego e do romano. este livro, muito bem escrito, dá-nos um retrato bem mais fiel da realidade (lembrar que a maioria do que até nós chegou foi relatado pelos gregos, que sempre menorizaram os persas).

 







27 setembro 2024

 





dezasseis anos depois, um novo disco.
e ninguém melhor do que eles para retratar
estes tempos de 'doom & gloom'...












03 setembro 2024

 




cada vez gosto mais de bandas que, ao longo da sua (ainda curta) evolução,
se deixam seduzir pelos encantos de um certo saudosismo psicadélico











30 agosto 2024


 




leituras  de  agosto





















:: notas :: 



other people’s countries

patrick mcguiness

ed. random house

 

no final deste relato da memória de uma infância vivida em parte numa pequena vila belga no coração das ardenas (afinal uma memória de uma memória...), o autor resume tudo numa frase magnífica: “what I want to say is: i misremember all this so vividly it’s as if it only happened yesterday”. e é isso mesmo.

 


o espaço literário

maurice blanchot

ed. snob

 

este brilhante ensaio, necessariamente fragmentário, parece à primeira vista uma reflexão sobre a criação literária e artística e o poder da palavra. porém, através dos exemplos de algumas obras de mallarmé, kafka, hölderlin e rilke, encontramos algo mais profundo: a obscuridade interior inerente ao artista, a solidão criativa do escritor, a experiência antecipada do fim da vida (o capítulo dedicada a rilke e à morte é qualquer coisa...). uma meditação crítica sem paralelo, que há muito merecia uma tradução moderna em português são e escorreito.

 


uma só carne com a noite

vv. aa. (trad. vasco gato)

ed. língua morta / flâneur

 

muitas centenas de poemas vertidos para português.

 


beyond the sea

paul lynch

ed. oneworld

 

um homem e um rapaz arriscam uma saída à pesca num pequeno o barco. uma tempestade afasta-os da costa e perdem a hipótese de comunicar com terra. os dias transformam-se em semanas e estas em meses - e os dois enfrentam todas as situações-limite imagináveis.

 


the diving pool

yoko ogawa

ed. vintage

 

regresso ao estranho e sempre surpreendente universo de ogawa...

 

 

ramesses the great

toby wilkinson

ed. yale univ. press

 

biografia do que é considerado por muitos o maior faraó de todos. com a morte prematura de tutankhamon e a inevitável extinção da décimo-oitava dinastia, surge uma família de militares que ocupa e mantém o poder. o segundo ramesses (usermaatra, que os gregos deturparam para ozymandias) foi um deus-vivo durante seis décadas e, com ele, a perpetuação do poder um exercício permanente. fascinante nos tempos actuais.

 

 





26 agosto 2024

 




finalmente encontrei uma colagem decente entre o 'breathe' original e
a sua 'reprise' no final de 'time'... exercícios de respiração no lado escuro da lua.











04 agosto 2024

 




de novo às voltas com discos para arrumar,
fui dar com este velho e saboroso redman e...










01 agosto 2024

 

 

 

Istambul

 


 

Não sabia que um dia

te compararia a esta cidade.

Também não sabia que viria visitá-la sozinho

nem que te escreveria esta carta

para te dizer

que quando está frio num país de calor,

penso em ti.

Que quando vendem

no bazar fruta que não é da época,
penso em mim.

Que quando alguém paga mais do que deve
e é enganado por não saber o troco,

penso em nós.

 

 

 


Manuel Forcano

 





31 julho 2024

 




leituras  de  julho
























:: notas ::


kind of blue : miles davis and the making of a masterpiece

ashley kahn

ed. granta

 

biografia de um disco, seguramente um dos poucos discos da minha vida. quem me dera ter lá estado (mas nasci entre as sessões de gravação e o lançamento do album)...

 


david copperfield

charles dickens

ed. everyman’s library

 

vi há dias uma das últimas adaptações cinematográficas e fui reler trechos deste livro, em mais uma etapa do saboroso regresso a dickens.

 


camões, uma antologia

frederico lourenço

ed. quetzal

 

em ano de comemoração de mais um centenário camoniano, só cito este livro por o mesmo me ter sido oferecido - dado que jamais compraria um livro escrito em acordês. o caso é especialmente grave quando se trata de um académico que salienta a influência latina clássica (vergílio, horácio, etc.) na obra do poeta, e sujeita as transcrições da sua poesia a essa execrável novilíngua. depois, os comentários do professor são deploráveis, eivados de crítica estafada ao “imperialismo”, “escravatura”, “apropriação fascista”, etc., caindo na armadilha fácil e pouco inteligente de criticar um tempo e uma obra segundo os valores actuais, como se tivesse medo de ser criticado por não ser suficientemente “modernaço”... leitor, faz um favor a ti mesmo: lê camões numa edição clássica, não esta. essa é a melhor (e em bom rigor a única) maneira de o celebrar.

 


collected stories

william faulkner

ed. vintage

 

já conhecia a maior parte dos contos aqui presentes, mas esta colectânea de 42 histórias, seleccionadas pelo próprio faulkner para um único volume e agrupadas por temas, realça os seus motivos preferidos: a solidão, a luta perante a terra e os costumes, o sul e as suas desigualdades e tensões. quase na véspera do lançamento de um volume de contos de caldwell por mim traduzidos, foi bom regressar a este universo. 

 


shakespeare and company

sylvia beach

ed. univ. nebraska press

 

esta memória é a biografia da verdadeira shakespeare and company (não confundir com a livraria/loja turística, situada perto do sena, que herdou o mesmo nome), narrada pela sua fundadora, sylvia beach - a famosa livreira que publicou a primeira edição do ‘ulysses’ de joyce, e o livro contém pormenores curiosos desse processo editorial. a livraria nasceu em 1919 no nº 8 da rue dupuytren, mudou-se pouco tempo depois para o famoso nº 12 da rue de l’ódeon e, com o decorrer dos anos foi um local mítico de encontro de escritores anglófonos (joyce, hemingway, stein, fitzgerald, pound, eliot) e também francófonos (gide, romains, aragon, valéry), até fechar as portas na 2ª guerra mundial.

 


prophet song

paul lynch

ed. oneworld

 

grande novela, vencedora do man booker prize, sobre uma estranha e perturbadora distopia política. num futuro próximo um governo resolve criar uma polícia política e começar a fazer desaparecer todos os opositores - e uma mãe de quatro filhos vê desaparecer um a um os membros da sua família. há limites para a coragem e o instinto de preservação e sobrevivência?

 


the analog sea review, number four

vv. aa.

ed. analog sea

 

é o mais recente número deste 'journal off-line', dedicado à necessidade de uma nova era de renascimento, num paralelo com a procura da paz, amor e liberdade dos anos 60, a consciência do eu interior e os paradoxos do tempo - numa colecção de textos, poemas e imagens de nomes como beckett, didion, ferlinghetti, camus, thoreau, benjamin, tokarczuk, woolf, picasso, vallotton e, como sempre, numa edição primorosa.

 


diógenes, o cão

paul hervieu

ed. e-primatur

 

biografia de diógenes de sinope, o asceta que vivia num barril e à luz do dia, de vela acesa procurava um homem. curiosíssimo como o seu cinismo permanece actual, talvez mais actual do que nunca...