27 março 2021

 




leituras  de  março






  


  


 


 


 







:: notas ::


desvios 

rené crevel

ed. snob

 

foi o livro de estreia de crevel, um autor que esteve com os primeiros surrealistas. individualista e polémico, nunca convencional, foi mais tarde rejeitado pelo grupo e juntou-se ao movimento dada. o mesmo aconteceu depois com os comunistas: adesão voluntariosa e posterior expulsão. quando pensamos nele como mundano, toxicómano, bissexual assumido e tuberculoso, percebemos melhor a sensação incómoda que o enredo tortuoso desta novela deixa em nós. é uma biografia de iniciação, da descoberta do que define os relacionamentos e condiciona as emoções. nota-se em crevel a intenção de "desviar" o texto de uma estrutura mais clássica (talvez "romântica" como ele próprio achou), com o recurso a frases longas e monólogos febris. e, no retrato da relação entre o narrador e cyrilla, notei um paralelo curioso com o amor de swann por odette descrito por proust no primeiro volume da "recherche", um sentimento que começa por parecer apenas um flirt inconsequente mas que se aprofunda e cresce de modo inesperado, tornando-se denso, irresolúvel - e, na verdade, sem desvios possíveis.

 


 

a grécia de que falas... 

vv. aa. (trad. manuel resende)

ed. língua morta

 

bela e extensiva recolha de poemas de autores da grécia do séc. xx. não sei grego, mas sei que manuel resende lhes fez justiça.

 


 

the end of the moment we had

toshiki okada

ed. pushkin press

 

okada é dramaturgo e director teatral - e isso nota-se na sua prosa, onde retrata a complexidade dos seus personagens através do recurso a uma forma peculiar de fluxo de consciência. o livro contém duas histórias: na 1ª, que dá o nome ao livro, dois desconhecidos encontram-se num happening na véspera da guerra do golfo e decidem ignorar o mundo exterior, encerrando-se num hotel praticando uma espécie de "make sex, not war". na 2ª, "my place in plural", somos convidados a ouvir os pensamentos tortuosos, neuróticos e bizarros de uma mulher, deitada em casa, que lê blogs e imagina aquilo que o marido está a fazer. não achei deslumbrante mas senti algo de beckett e kafka nesta escrita - e só isso já é qualquer coisa.







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