leituras  de  fevereiro

   

  

  

  

 

:: notas ::

beware of pity

stefan zweig

ed. pushkin press

 

único verdadeiro "romance" publicado por zweig, esta "impaciência do coração" (do título em alemão) torna-se um alerta contra os perigos da piedade, um dos sentimentos mais dúbios que podem controlar alguém. nas vésperas do início da 1ª guerra mundial, um tenente de cavalaria comete o erro de convidar para dançar uma jovem sentada, desconhecendo que é paralítica. a vontade de compensar esse deslize associada à inevitável piedade vão desencadear uma série de acontecimentos, numa espiral descendente até ao trágico desenlace. o retrato psicológico que zweig nos dá de edith, a jovem deficiente que se apaixona pelo tenente, é inultrapassável na sua complexidade e faz dela uma anti-heroína inesquecível. terminei hoje o livro e não entendo como nenhum grande cineasta transportou esta história para o cinema.

 

 

before the coffee gets cold

toshikazu kawaguchi

ed. picador

 

novela maravilha, que trouxe para a ribalta uma corrente de realismo fantástico nas letras japonesas - e que tem cada vez mais cultores e devotos. apesar de se tratar de quatro histórias de personagens que se encontram num café onde, mediante condições muito particulares, é possível viajar no tempo (sem sair do lugar), há um foco especial nas emoções, naquilo que mais humano há dentro de nós - e esse contraste é uma das chaves para, assim que começa a ser lida, a narrativa se tornar irresistível.

 

 

borges apaixonado

alberto manguel

ed. tinta-da-china

 

pequeno grande ensaio-memória de manguel (apenas disponível como oferta na compra de dois livros na editora), que na juventude foi uma das pessoas a quem jorge luis borges, já cego, pedia regularmente para lhe lerem os livros de que gostava. partindo da sua relação com estela canto, num comentário a que não falta ironia e até humor, passa pelo casamento com elsa astete e pela última relação com maría kodama, terminando com divagações em torno de dante e a sua beatriz, na verdade inatingível como as mulheres na vida de borges. publicado em plaquette de grafismo cuidado, degusta-se como uma guloseima rara e temos pena que termine tão depressa.

 

jane austen at home

lucy worsley

ed. st martins press

 

um livro que nos prende logo nas primeiras páginas, não só pela atenção aos detalhes da vida conhecida de miss austen, desde a infância até ao desaparecimento prematuro, mas sobretudo por tentar mostrar o que no início do séc. xix significava socialmente ser mulher e escritora, a sua procura incessante por um lugar ao sol a que pudesse chamar "lar" e a batalha, permanente e interminável, pela independência económica. grande biografia.