leonardo da vinci : a biography
walter isaacson
ed. simon & schuster
para além de tudo o que já sabia da sua vida e da sua fabulosa imaginação criativa nos domínios que aguçaram a sua curiosidade global (desenho, anatomia, pintura, construção, etc), sempre naquela ténue fronteira entre as humanidades e as ciências, gostei de saber que também era genial num campo que me é especialmente caro: a procrastinação. finalmente, alguém que me compreende!
spring garden
tomoka shibasaki
ed. pushkin press
ao fim de três nomeações, foi com esta novela que miss shibasaki ganhou, há meia dúzia de anos, o prestigiado prémio akutagawa. é uma história sobre o desaparecimento da memória que temos das casas e cidades que habitámos e a tentativa de contrariar interiormente o inexorável progresso. taro é um inadaptado social que vive num bloco de apartamentos que vai ser demolido e nishi é uma desenhadora de manga que ainda ali vive. ambos observam uma vivenda que existe atrás de um muro contíguo ao edifício. com base num livro antigo, que refere e mostra fotografias antigas dessa casa, desenvolvem uma curiosidade natural pela sua arquitectura, decoração interior, jardim e habitantes passados e presentes. conseguem por fim visitar aquela casa, quase no momento em que têm de abandonar as suas. os seus diálogos e reflexões são o sumo do texto. a moderna prosa japonesa tem sido o meu tesouro nos últimos tempos.
o instituto para o acerto dos relógios
ahmet hamdi tanpinar
ed. maldoror
ao fim de três nome por muitos considerado o maior romance turco do séc. xx, esta é uma história feita de muitas outras, urdidas num enredo circular, um relato das desventuras de um fabuloso anti-herói que, juntamente com um grupo de personagens improváveis (um relojoeiro filósofo, um farmacêutico alquimista, um psicanalista palrador, um dignatário do extinto império otomano, etc.) vai fundar um instituto para a regulação nacional de todo o tempo medido. a tarefa é quixotesca: assegurar, através de uma organização que aplica métodos e multas hilariantes, que todos os relógios do país, públicos ou privados, estão ajustados ao tempo ocidental. e assim, por entre memórias da juventude do narrador e inúmeras aventuras paralelas, se vai desenrolando uma sátira brilhante e certeira à chegada inexorável dos valores ocidentais a uma turquia ainda regulada por tradições centenárias. poderia parecer apenas uma novela cómica, mas acaba por ser um daqueles livros que sabemos ser um clássico para degustar e guardar e cuja edição, apesar de algumas "gralhas" incompreensíveis, se saúda e recomenda vivamente.