17 janeiro 2021




 

 

Ítaca

 


 

 

O amado não precisa
de viver. O amado

vive na cabeça. O tear

é para os pretendentes, encordoado

como uma harpa com fio de sudário branco.


 

Ele era duas pessoas.

Ele era o corpo e a voz, o fácil

magnetismo de um homem vivo, e depois

o sonho ou imagem que se desenrola

moldado pela mulher manobrando o tear,

ali sentada na sala cheia

de homens sem imaginação.


 

Como lamentas

o mar enganado que tentou

levá-lo para sempre

e apenas levou o primeiro,

o actual esposo, tens de lamentar

estes homens: eles não sabem

para o que estão a olhar;

eles não sabem que quando alguém ama assim

o sudário se torna um vestido de noiva.

 

 

 



Louise Glück






(tradução imperfeita minha)


Sem comentários:

Enviar um comentário

cartografe aqui: