12 setembro 2020





vamos  viver  para  lisboa




vamos viver para lisboa, disseste-me, e o vento forte
desalinhava-te os cabelos. haverá sempre uma cave
ou um sótão para alugar, eu posso tentar encontrar
um part-time, a faculdade não me vai ocupar assim
tanto. aqui perto da baixa, eu sei, precisas de ver a
água do rio, interrogar as mudas tágides e passar os
dias no cais das colunas à espera de qualquer coisa.
os teus olhos brilhavam e, acrescentaste, estou certa
de que terás inspiração para terminar o livro, posso
ajudar-te a rever os poemas, sinto que correrá bem.


vamos viver para lisboa, disseste-me, e o vento forte
desalinhava-te os cabelos. eu sabia que para ti toda a
cidade mais não era que um cenário no palco onde
a nossa epopeia se iria escrever. e pude ver nos teus
olhos o fulgor baço das pedras da calçada, memória
fugaz de um cais de tristes náufragos aos nossos pés.


vamos viver para lisboa, disseste-me, e o vento forte
desalinhava-te os cabelos, os dois parados no passeio
sob a janela da nossa casa, ali na esquina que a rua
áurea faz com a da vitória, na derrota desse outono.





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