...celestial...
30 agosto 2019
27 agosto 2019
23 agosto 2019
Contra a interpretação
Foi por causa do soneto treze de Shakespeare
que Victoria Ocampo não quis ter filhos. Ao descobrir,
algures entre o quarto e o sétimo verso, que poderia
dar consigo nos braços de quem deixara
de conhecer, como se o amor nascesse
de alguma semelhança de si com outrem, preferiu
não se entregar a ninguém. Corrijo, porém: o poema
tem rimas que compensam a falta de amor; e a alguns
se entregou, na sua vida, de quem podemos
felicitá-la por não os ter ajudado a ficar com
descendência; outros, por essa ou outra razão,
deixaram-na para ir fazer filhos, a gosto ou contragosto,
noutras bandas, e noutros braços. Em conclusão: se
lerem o soneto treze, de Shakespeare, não
liguem à lição; e, se puderem, leiam antes
uma tradução, onde tudo pode sair ao contrário,
e até um recém-nascido do fundo do ovário.
Nuno Júdice
19 agosto 2019
15 agosto 2019
primeiro: o coração
primeiro: o coração. se calhar dois (um para quando se morre outro para
a espera do milagre)
e o teu sorriso icónico
já perto de desaparecer:
há coisas que só depois percebemos que devíamos
ter roubado –
e mais tarde o que me
fica nas mãos,
demasiado íntimo
para carregar comigo enquanto faço as rotinas
na loja do costume e perguntam
como vai? e sei por
dentro que o teu sexo me ficou no cheiro,
por isso sorrio e genuinamente
respondo que
muito bem, cá se vai
andando
e sorrio de novo
no meu corpo o teu rasto
o arrepio de só há pouco
teres saído:
volta, estou tão perto
(se todas as noites me visitasses seria tão fácil morrer)
enquanto por dentro falo
calada
a dizer tanto
e o corpo, o corpo e o sorriso
que não voltei a ver,
o sexo
a namorada que guardas na gaveta
lá de casa quando apareço: mas primeiro sorrio primeiro faço as compras
da loja
do costume sorrio de novo
os morangos estão fora de época
o teu sexo numa estufa
as laranjas enormes,
com uma cor de encher
os olhos, mas primeiro,
o coração.
primeiro: o coração.
a espera do milagre)
e o teu sorriso icónico
já perto de desaparecer:
há coisas que só depois percebemos que devíamos
ter roubado –
e mais tarde o que me
fica nas mãos,
demasiado íntimo
para carregar comigo enquanto faço as rotinas
na loja do costume e perguntam
como vai? e sei por
dentro que o teu sexo me ficou no cheiro,
por isso sorrio e genuinamente
respondo que
muito bem, cá se vai
andando
e sorrio de novo
no meu corpo o teu rasto
o arrepio de só há pouco
teres saído:
volta, estou tão perto
(se todas as noites me visitasses seria tão fácil morrer)
enquanto por dentro falo
calada
a dizer tanto
e o corpo, o corpo e o sorriso
que não voltei a ver,
o sexo
a namorada que guardas na gaveta
lá de casa quando apareço: mas primeiro sorrio primeiro faço as compras
da loja
do costume sorrio de novo
os morangos estão fora de época
o teu sexo numa estufa
as laranjas enormes,
com uma cor de encher
os olhos, mas primeiro,
o coração.
primeiro: o coração.
Francisca Camelo
13 agosto 2019
lembro-me como se tivesse sido ontem: havia um novo coppola em exibição
e lá fui, ao saudoso apolo 70, ver esse magnífico "one from the heart".
a banda sonora é hoje um clássico - mas continuo a achar incrível que esta canção,
a banda sonora é hoje um clássico - mas continuo a achar incrível que esta canção,
gravada para o filme, não tenha sido incluída no lp com a banda sonora original.
i don't care if she never comes back
sing candy apple red
i'll never fall in love again and that's for sure
singing candy apple red
i'm gonna drink just like a son of a bitch
sing candy apple red
and drive my car into a drainage ditch
singing candy apple red.
sing candy apple red
i'll never fall in love again and that's for sure
singing candy apple red
i'm gonna drink just like a son of a bitch
sing candy apple red
and drive my car into a drainage ditch
singing candy apple red.
11 agosto 2019
06 agosto 2019
Palabra
Leyendo el diccionario
he encontrado una palabra nueva:
con gusto, con sarcasmo la pronuncio;
la palpo, la apalabro, la manto, la calco, la pulso,
la digo, la encierro, la amo, la toco con la yema de los dedos,
le tomo el peso, la mojo, la entibio entre las manos,
la acaricio, le cuento cosas, la cerco, la acorralo,
le clavo un alfiler, la lleno de espuma,
después, como a una puta,
la echo de casa.
he encontrado una palabra nueva:
con gusto, con sarcasmo la pronuncio;
la palpo, la apalabro, la manto, la calco, la pulso,
la digo, la encierro, la amo, la toco con la yema de los dedos,
le tomo el peso, la mojo, la entibio entre las manos,
la acaricio, le cuento cosas, la cerco, la acorralo,
le clavo un alfiler, la lleno de espuma,
después, como a una puta,
la echo de casa.
Cristina Peri Rossi
Subscrever:
Mensagens (Atom)