... entretanto, voltei à gazeta ...
28 junho 2019
26 junho 2019
no final do ano passado elaborei a habitual e fatídica lista de livros, e
formulei o desejo de ler mais, sobretudo poesia. não sei bem explicar
como tal foi possível mas tenho-o feito e, chegados a meio do ano, lá
me convenci a deixar aqui apenas uma breve lista dos livros de poesia
que de algum modo mais me entusiasmaram ao longo destes seis meses.
collected poems - ron padgett - coffee house press
os cães ladram facas - charles bukowski - alfaguara
todos los poemas - joan margarit - austral
da poesia - hilda hilst - companhia das letras
fuera de campo - pablo garcía casado - visor
o livro da pobreza e da morte - rainer maria rilke - snob
cuaderno de campo - maría sánchez - la bella varsovia
the cinnamon peeler - michael ondaatje - vintage
arca e usura - marcos foz - ed. de autor
ya nadie baila - elvira sastre - valparaíso
a garganta inflamada - vv. aa. - companhia das ilhas
a arte da fuga - andré tecedeiro - do lado esquerdo
complete poems (1904-1962) - e.e.cummings - liveright
alegria para o fim do mundo - andreia c. faria - porto editora
o sangue a ranger nas curvas apertadas do coração - rui caeiro - maldoror
24 junho 2019
Avis rara
Dizem que é do clima, que o tempo está a mudar.
O ovo entristece a andorinha.
O corvo já é só um emblema. Lá em cima
os aviões transportam toda a carne
outrora cobiçada pela águia-real.
E o que é que as aves têm que ver com isto?
Nenhuma é rara, se lhe perguntam.
Nenhuma, como eu, acólita
do vento em não-lugares.
Andreia C. Faria
18 junho 2019
10 junho 2019
ó pátria
entre as brumas da memória
ó pátria, confessa que já não
sabes lá muito bem quem és
dou-te um conselho gratuito
toma memofante, pequena,
toma memofante ou gingko
biloba ou magnésio ou uma
vitamina do vasto complexo
bê ou até extracto de ginseng
caso não queiras tratamentos
com fosfatidilserina, os velhos
ácido fólico ou pregnenolona
depois, ó pátria sente-se a voz
mas muito rouca e nota-se a
garganta inflamada, dás por
ti dependente de pastilhas e
xaropes, descrente no futuro
desanimada, cada vez menos
valente, cada vez mais mortal
09 junho 2019
07 junho 2019
Entrar em casa, ligar o portátil
e a impressora, rasgar
o que não se aproveita, pegar de novo
no que pode ter alternativa, carregar
de um lado para o outro, do corpo
de um lado para o outro, do corpo
para o papel e do papel
para o corpo, esmagar uma revolta e propagar
a respectiva contra-revolta, vingar os mortos
e os feridos de ambos os partidos,
jogar o corpo fora, estragar papel.
jogar o corpo fora, estragar papel.
José Ricardo Nunes
03 junho 2019
fábula da ilha dos amores
também de pouco serviu ter-me alimentado de
poesia, bebido os versos até me sentir inebriado,
procurar a aura mágica no espanto das palavras.
e, sem o querer ou ansiar, acabei por memorizar
inúmeros poemas, muitos sem saber até porquê,
saboreando sons, recitando-os de cor para mim.
reuni na memória um acervo tal que nenhuma
editora desdenharia transformar em colectânea,
talvez crente em que essas imagens poéticas dos
outros pudessem ilustrar as minhas, e desejando
convencer-me de que a leitura de paixões alheias
iria tornar ainda mais perfeita a que sentia por ti.
depois, quando partiste e me abandonaste nesta
ilha dos amores só nossa, tratei de esquecer essas
noventa e cinco estrofes em oitavas decassilábicas
que perfazem o canto nono de uma epopeia menor.
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