com alguma frequência olho para fotos com pessoas dentro e penso, também, em quem estaria por detrás da câmara.
claramente, aqui, alguém que gosta, respeita o retratado, para usar o teu verbo: és tu? um cinquentão charmoso, delinguagem corporal algo contida, mas nota-se um entusiasmo de quem olha uma plateia de gente ali mesmo, não em ofício de corpo presente :)
sou eu, a falar de pedras e palavras e outras formações rochosas, na apresentação do livro na cossoul. a fotografia foi tirada por um colega da universidade.
As fotos a sépia também são bonitas e esta ficou muito bem.
Já que o retrato também mostra um dos poemas escolhidos, vou deixar outro que gostei muito de ver na apresentação do seu livro, e que foi igualmente projectado na parede:
uma voz na pedra
não sei se respondo ou se pergunto. sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio. estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra. não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho. de súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante. a minha ebriedade é a da sede e a da chama. com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio. o que eu amo não sei. amo. amo em total abandono. sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente. indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim. não estou perdida, estou entre o vento e o olvido. quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença. não sou a destruição cega nem a esperança impossível. sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
antónio ramos rosa
___________________
E ainda sobre os retratos a sépia, descobri isto. :)
auto-retrato a sépia
dirão os leitores mais avisados, os que chegarem ao fim destas linhas que jamais conseguiria este falso efabulador auto-retratar-se a sépia por tal ser uma impossibilidade, um conjunto vazio, um nada, népia e que apenas houve uma tentativa de logro com imagens mesquinhas
diz-se como o poeta da altura do que os seus olhos vêem no mundo e confessa ser um homem das ciências mas ter pelas letras um amor visceral, não saber o que fazer com e sem elas nesse afecto profundo tem depois o desplante de tentar brincar com o que sabe serem tretas pois a sério afirma ter o cabelo todo branco mas fazer nuances pretas como se fosse possível encobrir com rimas parvas e duvidoso humor mágoas que sente pelo envelhecimento de um corpo só, que diz não a um espírito ainda jovem e ao seu inflamável e inexperiente coração refere gostar de viver para sempre num lugar que fosse perto do aqui e agora, numa casa feita de livros com janelas de palavras ditas sem voz e vai naquele antigo caderno de todos os barcos do tejo à procura de si sabendo no seu íntimo nada mais ser que um rio sem nascente nem foz
confirma estar refém de um mundo só seu, repleto de fábulas e fantasias sobre gente da música e escritores que considera os seus heróis, que assim o inspiram a juntar frases, para que algo de seu perdure para além do fim e que também não acredita em deus mas lhe pede pelos filhos todos os dias
josé luís borges de almeida | "fábulas incompletas", último poema do capítulo i.
(espero não me ter enganado a copiar; é que agora estou em dúvida sobre pontos finais e hoje deixei o livro longe :))
Não tenho sido tão responsável quanto me comprometi, deveria e desejaria, pelo Ruy Belo, numa plataforma que anda por aí, mas mesmo assim já li e transcrevi muitos poemas dele. Pelo que me tenho apercebido, tinha a particularidade de quase nunca usar, ou mesmo não usar (não tenho ainda certeza) pontos finais. (Na poesia. Na prosa usava.) No entanto, outra pontuação usava bastante, como pontos de interrogação e de exclamação, e dois pontos. Vale o mesmo para as vírgulas, na poesia. (Agora até fiquei mais alerta para correcções e verificações que tenho de fazer. Por exemplo, é comum o "Atropelamento mortal" aparecer com pontos finais lá pelo meio e tenho de verificar se o original os tinha.))
Em vez dessas marcas recorria ao artifício de colocar dois ou mais espaços entre as palavras, e não apenas um. Acontece muito não se respeitar esses intervalos quando se faz a transcrição.
com alguma frequência olho para fotos com pessoas dentro e penso, também, em quem estaria por detrás da câmara.
ResponderEliminarclaramente, aqui, alguém que gosta, respeita o retratado, para usar o teu verbo: és tu? um cinquentão charmoso, delinguagem corporal algo contida, mas nota-se um entusiasmo de quem olha uma plateia de gente ali mesmo, não em ofício de corpo presente :)
beijoca, Youssouf Ludwig
sou eu, a falar de pedras e palavras e outras formações rochosas, na apresentação do livro na cossoul.
ResponderEliminara fotografia foi tirada por um colega da universidade.
As fotos a sépia também são bonitas e esta ficou muito bem.
ResponderEliminarJá que o retrato também mostra um dos poemas escolhidos, vou deixar outro que gostei muito de ver na apresentação do seu livro, e que foi igualmente projectado na parede:
uma voz na pedra
não sei se respondo ou se pergunto.
sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
de súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
a minha ebriedade é a da sede e a da chama.
com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
o que eu amo não sei. amo. amo em total abandono.
sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
antónio ramos rosa
___________________
E ainda sobre os retratos a sépia, descobri isto. :)
auto-retrato a sépia
dirão os leitores mais avisados, os que chegarem ao fim destas linhas
que jamais conseguiria este falso efabulador auto-retratar-se a sépia
por tal ser uma impossibilidade, um conjunto vazio, um nada, népia
e que apenas houve uma tentativa de logro com imagens mesquinhas
diz-se como o poeta da altura do que os seus olhos vêem no mundo
e confessa ser um homem das ciências mas ter pelas letras um amor
visceral, não saber o que fazer com e sem elas nesse afecto profundo
tem depois o desplante de tentar brincar com o que sabe serem tretas
pois a sério afirma ter o cabelo todo branco mas fazer nuances pretas
como se fosse possível encobrir com rimas parvas e duvidoso humor
mágoas que sente pelo envelhecimento de um corpo só, que diz não
a um espírito ainda jovem e ao seu inflamável e inexperiente coração
refere gostar de viver para sempre num lugar que fosse perto do aqui
e agora, numa casa feita de livros com janelas de palavras ditas sem voz
e vai naquele antigo caderno de todos os barcos do tejo à procura de si
sabendo no seu íntimo nada mais ser que um rio sem nascente nem foz
confirma estar refém de um mundo só seu, repleto de fábulas e fantasias
sobre gente da música e escritores que considera os seus heróis, que assim
o inspiram a juntar frases, para que algo de seu perdure para além do fim
e que também não acredita em deus mas lhe pede pelos filhos todos os dias
josé luís borges de almeida | "fábulas incompletas", último poema do capítulo i.
(espero não me ter enganado a copiar; é que agora estou em dúvida sobre pontos finais e hoje deixei o livro longe :))
:) creio que foi bem copiado (a última fábula propositadamente não contém pontos finais a terminar as frases)
EliminarNão tenho sido tão responsável quanto me comprometi, deveria e desejaria, pelo Ruy Belo, numa plataforma que anda por aí, mas mesmo assim já li e transcrevi muitos poemas dele. Pelo que me tenho apercebido, tinha a particularidade de quase nunca usar, ou mesmo não usar (não tenho ainda certeza) pontos finais. (Na poesia. Na prosa usava.)
EliminarNo entanto, outra pontuação usava bastante, como pontos de interrogação e de exclamação, e dois pontos.
Vale o mesmo para as vírgulas, na poesia.
(Agora até fiquei mais alerta para correcções e verificações que tenho de fazer. Por exemplo, é comum o "Atropelamento mortal" aparecer com pontos finais lá pelo meio e tenho de verificar se o original os tinha.))
Em vez dessas marcas recorria ao artifício de colocar dois ou mais espaços entre as palavras, e não apenas um. Acontece muito não se respeitar esses intervalos quando se faz a transcrição.
estratigrafias :)
ResponderEliminarum ia irei, um dia poderei ir, também, como esses/as sortudos/as, escutar-te, incl. o como te moves (a mania do cinema... :)
fico à espera ;)
EliminarEu também irei ao próximo!
ResponderEliminarEnquanto não, vou levando daqui.
~CC~