fábula para antónio ramos rosa
nestes finais de tarde de uma
lisboa que desaparece no olhar
enquanto o sol ensonado se vai
deitando sobre os telhados,
a memória traz-me muitas vezes a
recordação do ramos rosa.
porque, como ele, também eu
esperava que, ao escrever, um
misterioso entusiasmo produzisse
na página branca o cristal
do mundo e as suas árvores, os
seus amantes e os seus rios
como vozes mágicas de
um cântico ancestral, por ninguém
entoado antes das
palavras terem sido inventadas. e que a
água, imóvel entre
as brancas ruínas desta escrita que se me
escapa, não
reflectisse as imagens nem os sonhos, e à violência
dos flancos das
figuras trouxesse o êxtase de uma beleza que não
fluísse e se perdesse na lembrança da foz deste tejo que anoitece.
fluísse e se perdesse na lembrança da foz deste tejo que anoitece.