04 janeiro 2018




lamento  de  pasífae





eu, a que tudo ilumina com estes cabelos tão ruivos,
que jamais aplaudi a beleza e nunca a senti demasiado,
não resisti ao canto da carne. a lascívia tomou-me a voz
e ordenei a dédalo que concebesse uma vaca oca,
com suficiente espaço interior para adaptar o meu
corpo a essas bovinas formas, inflamando o desejo
daquele belíssimo touro branco de chifres dourados.


moldei o meu corpo ao teu, deixei o teu corpo no meu,
olhei os meus olhos nos teus e algo cresce agora em mim.






5 comentários:

  1. Claro que me ri com o "não resisti ao canto da carne"... ai as tentações ;)

    E achei bonita esta fábula do josé luís, também muito porque encontro nela dos ritmos e planos que estão ali separados por aquele espaço maior.

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    1. o canto da carne é (dizem) mais tentador e irresistível que o das sereias ;)

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