30 março 2017






Não posso dizer que tenha aprendido grande coisa
nos últimos, digamos, duzentos anos.
Há muitas perguntas que vão perdendo altura
à medida que as penas tombam e também
as garras já não prendem como soíam.
Depois de ter visto de que palha são enchidos
os príncipes felizes, já não saio de casa
sem levar comigo uma carteira de fósforos.
Agora tenho mais tempo morto, só de cinco
em cinco anos compro uma pilha nova
para o relógio. Em vez de cortar os pulsos
cortei a linha do telefone. Já não acordo de noite
para lhe perguntar por que não tocas.
E o que mais me custa, no fim de contas,
é dar razão a Confúcio quando afirma:
quanto mais te ergues para Deus mais ele
de ti se afasta, deixando-te sozinho
a arrumar a casa. Mas estes chineses,
na filosofia moral como no ténis de mesa,
acabam sempre por levar a taça,
e por esta altura da minha queda já concedo
que seja o silêncio a condição natural
para uma ave sem nome que Setembro chamou
e que há duzentos anos não aprende nada.






José Miguel Silva






27 março 2017





como pai do rock&roll, chuck berry nunca esqueceu as raízes e, à sua maneira,
 escreveu alguns azuis com piada. este é um deles (...e para a semana há mais)








21 março 2017







Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
De quem não espera recado.
Essa sombra como é a alma
De quem já só por dentro se ilumina
E surpreende
E por fora é
Apenas peso de ser tarde. Como é
Amargo não poder guardar-te
Em chão mais próximo do coração.




Daniel Faria





18 março 2017





tornou-se hoje imortal charles edward anderson berry, 
o meu mais antigo herói da música.
foi com ele que a guitarra eléctrica se tornou o instrumento rei.
e com ele aprendi a gostar do rock&roll mais cru e puro.
see you, chuck.



[ e estive a ouvir com saudade um lp, uma espécie de "best of", que comprei durante uma viagem de inter-rail numa discoteca estranhíssima em budapeste. uma relíquia a partir de hoje, esse vinil de prensagem húngara ]





14 março 2017





lista de livros lidos em 2017 :




1 : strange weather in tokyo, hiromi kawakami, portobello books



2 : the book, keith houston, w. w. norton


3 : ver no escuro, cláudia r. sampaio, tinta-da-china   


4 : mil anos de esquecimento, afonso cruz, alfaguara


5 : oscar wilde, a certain genius, barbara belford, bloomsbury  


6 : oscar wilde, richard ellmann, penguin


7 : kitchen, banana yoshimoto, faber & faber



8 : la tentation de saint antoine, gustave flaubert, folio
 


9 : tres deseos (poesía reunida)amalia bautista, renacimiento


10 : early christian lives, carolinne white, penguin classics


11 : hyeronimus bosch: the complete works, stefan fischer, tachen


12 : the desert fathers: sayings of the early christian monks, benedicta ward, penguin classics


13 : poesía completa, alejandra pizarnik, lumen


14 : ...





12 março 2017





Al cabo



Al cabo, son muy pocas las palabras
que de verdad nos duelen, y muy pocas
las que consiguen alegrar el alma.
Y son también muy pocas las personas
que mueven nuestro corazón, y menos
aún las que lo mueven mucho tiempo.
Al cabo, son poquísimas las cosas
que de verdad importan en la vida:
poder querer a alguien, que nos quieran
y no morir después que nuestros hijos.




Amalia Bautista






10 março 2017






aqui falara disto. e em verdade, em verdade vos digo: 
o último álbum dos elbow é, até agora, o melhor de 2017.





Across the city there’s a golden chill
A rare holding still
As if somebody’s gonna sing
A dip in tempo for the castanet shoes
No blues and twos
As if somebody’s gonna sing
And in the moment hanging on to you
We’re a bundle of clothes and shoes
Whatever we could find
You are the reason for this missing beat
On the streets that I love
And in me

Now I’m here at your side
We try to rhyme our stride
And head for supplies

Way down inside me was a pilot light
That good friends tended and fed with tiny kindnesses
And there was comfort in a stranger’s bed from time to time
It has to be said it just reminded us
The brief ignition of a hopeful flame but there and then gone
It wasn’t the same and then a rostrum struck
The way you read me like you wrote this book
And chapters along it’s still in your eyes

Now I’m here at your side
As though
The street
That meets our feet
Might know
We try to rhyme our stride
And head for supplies

Across the city there’s a golden chill
A rare holding still
As if somebody’s gonna sing
A dip in tempo for the castanet shoes
No blues and twos
As if somebody’s gonna sing
We glide we spin
You end and I begin
I made this mess for you
To sift through for all time
You’re glowing from within
Beneath an autumn sky
We find our rhyming stride
And head for supplies





04 março 2017







Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos
E quero cair em desuso
Fundir-me completamente.
Esperar o clarão da tua vinda, a estrela, o teu anjo
Os focos celestes que a candeia humana não iguala
Que os olhos da pessoa amada não fazem esquecer.
Amo tão grandemente a ideia do teu rosto que penso ver-te
Voltado para mim
Inclinado como a criança que quer voltar ao chão.




Daniel Faria






02 março 2017




neste hemisfério as águas de março não fecham o verão, nem sequer o inverno.
mas recordei este rio verde, a primeira canção de john fogerty e dos 
creedence clearwater revival que me lembro de ter gostado.