Não posso
dizer que tenha aprendido grande coisa
nos últimos,
digamos, duzentos anos.
Há muitas
perguntas que vão perdendo altura
à medida que
as penas tombam e também
as garras já
não prendem como soíam.
Depois de
ter visto de que palha são enchidos
os príncipes
felizes, já não saio de casa
sem levar
comigo uma carteira de fósforos.
Agora tenho
mais tempo morto, só de cinco
em cinco
anos compro uma pilha nova
para o
relógio. Em vez de cortar os pulsos
cortei a
linha do telefone. Já não acordo de noite
para lhe
perguntar por que não tocas.
E o que mais
me custa, no fim de contas,
é dar razão
a Confúcio quando afirma:
quanto mais
te ergues para Deus mais ele
de ti se
afasta, deixando-te sozinho
a arrumar a
casa. Mas estes chineses,
na filosofia
moral como no ténis de mesa,
acabam
sempre por levar a taça,
e por esta
altura da minha queda já concedo
que seja o
silêncio a condição natural
para uma ave
sem nome que Setembro chamou
e que há
duzentos anos não aprende nada.
José Miguel
Silva
Gosto muito deste poema. Num todo e por algumas referências mais em particular, como o tempo morto, o deus que se afasta, a solidão, o não se aprender nada há dois séculos.
ResponderEliminarMas é curioso que foi o cortar dos pulsos que mais me levou a fixá-lo. É que sei que o li há pouco tempo por essa referência, talvez por ser um lado mais "espectacular".
Bom dia, josé luís (aqui o sol voltou a ficar cansado.)
bom dia, (aqui o sol ainda vai aparecendo) ;)
Eliminarque bela escolha!
ResponderEliminarmapas alheios - e afinal tão nossos... ;)
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