[av. da liberdade]
31 janeiro 2016
30 janeiro 2016
uma pequena maravilha este simples exercício vocal com a assinatura de david lang. inspirado no “cântico dos cânticos”, o tema repete-se sem fim mas não se fecha em si - e nunca se esgota. e foi outra das boas surpresas, a sua inclusão na banda sonora de “youth”, o último filme de sorrentino.
(...
just your flock
just your companions
just your kids
just your cheeks
just your neck
just your couch
and my perfume
and my beloved
and my breasts
and my beloved
and my love
just your eyes
and my beloved
our couch
our house
our laughters
and my love
and my beloved
…)
…)
28 janeiro 2016
Cada poema
faz esquecer o anterior,
apaga a
história de todos os poemas,
apaga a sua
própria história
e até apaga
a história do homem
para ganhar
um rosto de palavras
que o abismo
não apague.
Também cada
palavra do poema
faz esquecer
a anterior,
desfilia-se
por um momento
do tronco
multiforme da linguagem
e
reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir
o rito imprescindível
de inaugurar
outra linguagem.
E também
cada silêncio do poema
faz esquecer
o anterior,
entra na
grande amnésia do poema
e vai
envolvendo palavra por palavra,
até sair
depois e envolver o poema
como uma
capa protectora
que o
preserva dos outros dizeres.
Nada disto é
estranho.
No fundo,
também cada
homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer
todos os homens.
Roberto Juarroz
26 janeiro 2016
25 janeiro 2016
quando,
há muitos anos, passei aqueles estranhos dias em new orleans, quis muito
assistir a um funeral. e uma tarde, ia eu pela toulouse street, quando vejo
passar um cortejo fúnebre. soube depois que se tratava do funeral da mãe de um dos
membros da banda que ia a tocar. e lá fui: acompanhei-os até ao cemitério de
st. louis, onde depois tocaram isto. nunca mais esqueci.
I
went down to St. James infirmary, saw my baby there
She
was stretched out on a long, white table, so cold, so sweet, so fair
Let
her go, let her go, God bless her, wherever she may be
She
can look this wide world over, but she'll never find a sweet man like me
When
I die bury me in straight laced shoes, I want a boxback coat and a Stetson hat
Put
a twenty dollar gold piece on my watch chain, so the boys will know that I died
standin' pat
23 janeiro 2016
Um campo batido
pela brisa
A tua nudez
inquieta-me.
Há dias em que
a tua nudez
é como um barco
subitamente entrado pela barra.
Como um
temporal. Ou como
certas palavras
ainda não inventadas,
certas posições
na guitarra
que o tocador
não conhecia.
A tua nudez
inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado
misterioso e frágil.
Distende o meu
corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso.
Destrói o meu corpo.
A tua nudez é
uma violência
suave, um campo
batido pela brisa
no mês de
Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da
terra fecundada.
Eu desgraço-me,
escrevo, faço coisas
com o
vocabulário da tua nudez.
Tenho «um
pensamento despido»;
maturação;
altas combustões.
De mão dada
contigo entro por mim dentro
como em outros
tempos na piscina
os leprosos
cheios de esperança.
E às vezes
sucede que a tua nudez é um foguete
que lanço com
mão tremente desastrada
para rebentar e
encher a minha carne
de
transparência.
Sete dias ao
longo da semana,
trinta dias
enquanto dura um mês
eu ando
corajoso e sem disfarce,
ilumindo,
certo, harmonioso.
E outras vezes
sucede que estou: inquieto.
Frágil.
Violentado.
Para que eu me
construa de novo
a tua nudez
bascula-me os alicerces.
Fernando Assis
Pacheco
22 janeiro 2016
esta é uma das boas covers do clássico de tom waits. até a minha scarlett johansson o gravou, embora a sua interpretação esteja muito aquém da de miss cole, cuja voz se adapta muito bem à atmosfera da canção. e há que destacar o ritmo mais lento e a inclusão de uma extraordinária harmónica como solista (tocada por howard levy).
I've
come 500 miles
Just
to see your halo
Come
from St. Petersburg
Scarlett
and me
When
I open my eyes
I
was blind as can be
And
to give a man luck
He
must fall in the sea
And
she wants you to steal and get caught
For
she loves you for all that you are not
When
you're falling down
Falling
down
You
forget all the roses
Don't
come around on Sunday
She's
not gonna choose you
For
standing so tall
Go
on take a swig of that poison
And
like it
And
now don't ask for silverware
Don't
ask for nothing
Go
on and put your ear to the ground
You
know you'll be hearing that sound
Falling
down
You're
falling down falling down
When
you're falling down
Falling
down falling down
Go
on down see that wrecking ball
Come
swing in on her now
Everyone
knew that hotel was a goner
They
broke all the windows
And
took all the door knobs
And
they hauled it away
In
a couple of days
Now
someone yelled timber
Take
off your hat
We
all look smaller
Down
here on the ground
When
you're falling down
Falling
down falling down
Someone's
falling down
Falling
down falling down
21 janeiro 2016
19 janeiro 2016
17 janeiro 2016
conheci miss barnett há uns dois anos quando dei, sem saber como, com um cd que reunia uns ep's. e no ano passado, o seu "sometimes i sit and think, and sometimes i just sit" terá sido um dos discos que mais gozo me deu ouvir. aquela capacidade de escrever letras giras aliada à sua maneira de tentar reinventar o fraseado rock prometem muito. oxalá.
15 janeiro 2016
tenho-o recordado nos últimos dias, sobretudo por ser também um daqueles que merecia ser imortal.
e hoje, uma dúzia de anos depois, apenas sei que desapareceu muito cedo, cedo demais.
Thought
you'd be looking for the next in line to love
Then
ignore, put out, and put away
And
so you'd soon be leaving me alone like I'm supposed to be
Tonight,
tomorrow, and every day
There's
nothing here that you'll miss
I can
guarantee you this is a cloud of smoke
Trying
to occupy space
What
a fucking joke
I
waited for a bus to separate the both of us
And
take me off, far away from you
'Cos
my feelings never change a bit
I
always feel like shit
I
don't know why, I guess that I just do
You
once talked to me about love
And
you painted pictures of a never never land
And
I could have gone to that place
But
I didn't understand
I
didn't understand
11 janeiro 2016
Epígrafe
Se algum dia
alguém chegar a ler
este dizer
agreste,
provavelmente
pensará: que pálida lanterna;
não é deste
metal que a luz é feita.
Calma. Pois
não.
Mas quem
assiduamente
visita os
desvãos onde a noite se acoita
não precisa
de mais que o clarão desta treva,
desta
cegueira sem cão e sem bengala,
para no
escuro rasgar o seu caminho
e nele ir
progredindo às arrecuas.
A. M. Pires Cabral
10 janeiro 2016
[ leituras ]
“the penguin book of the british short story”
ed. philip hensher
ed. philip hensher
penguin classics
não contando com a poesia, o conto será talvez o meu género
literário preferido. por essa razão esta foi a minha prenda de natal favorita –
ofereci-a e recebi-a.
em dois volumes primorosamente encadernados, de bom papel, impressão cuidada e num total superior a 1500 páginas, de daniel defoe até zadie smith aqui são englobados quase 100 contos, naquilo que fica a ser a mais exaustiva colecção de “short stories” inglesas alguma vez publicada. a escolha selectiva de philip hensher será discutível, mas não foram esquecidas algumas pérolas de nomes tão distantes, em tempo e estilo, como trollope, dickens, stevenson, conan doyle (sim, sherlock holmes num pequeno enigma), conrad, chesterton e kipling, passando por waugh, maugham, dahl, greene, naipaul, os dois amis, lessing, byatt e tantos tantos outros.
optei por não seguir a ordem cronológica proposta nos dois volumes, vou lendo conforme me apetece, intercalando estes contos com outras leituras. e alguns revelaram-se mesmo uma grande e boa surpresa, sobretudo quando se trata de autores que desconhecia: casos de ada leverson e viola meynell, por exemplo, com uma escrita inesperada. e, claro, agora tenho leitura para muitos meses.
em dois volumes primorosamente encadernados, de bom papel, impressão cuidada e num total superior a 1500 páginas, de daniel defoe até zadie smith aqui são englobados quase 100 contos, naquilo que fica a ser a mais exaustiva colecção de “short stories” inglesas alguma vez publicada. a escolha selectiva de philip hensher será discutível, mas não foram esquecidas algumas pérolas de nomes tão distantes, em tempo e estilo, como trollope, dickens, stevenson, conan doyle (sim, sherlock holmes num pequeno enigma), conrad, chesterton e kipling, passando por waugh, maugham, dahl, greene, naipaul, os dois amis, lessing, byatt e tantos tantos outros.
optei por não seguir a ordem cronológica proposta nos dois volumes, vou lendo conforme me apetece, intercalando estes contos com outras leituras. e alguns revelaram-se mesmo uma grande e boa surpresa, sobretudo quando se trata de autores que desconhecia: casos de ada leverson e viola meynell, por exemplo, com uma escrita inesperada. e, claro, agora tenho leitura para muitos meses.
08 janeiro 2016
from
spiralling ecstatically this
proud
nowhere of earth’s most prodigious night
blossoms a
newborn babe: around him, eyes
–gifted with
every keener appetite
than mere
unmiracle can quite appease–
humbly in
their imagined bodies kneel
(over time
space doom dream while floats the whole
perhapsless
mystery of paradise)
mind without
soul may blast some universe
to might
have been, and stop ten thousand stars
but not one
heartbeat of this child; nor shall
even prevail
a million questionings against the silence of his mother’s smile
–whose only
secret all creation sings.
e. e.
cummings
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