Cada poema
faz esquecer o anterior,
apaga a
história de todos os poemas,
apaga a sua
própria história
e até apaga
a história do homem
para ganhar
um rosto de palavras
que o abismo
não apague.
Também cada
palavra do poema
faz esquecer
a anterior,
desfilia-se
por um momento
do tronco
multiforme da linguagem
e
reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir
o rito imprescindível
de inaugurar
outra linguagem.
E também
cada silêncio do poema
faz esquecer
o anterior,
entra na
grande amnésia do poema
e vai
envolvendo palavra por palavra,
até sair
depois e envolver o poema
como uma
capa protectora
que o
preserva dos outros dizeres.
Nada disto é
estranho.
No fundo,
também cada
homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer
todos os homens.
Roberto Juarroz
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