14 setembro 2015







“A arte de ler é, em muitas maneiras, contrária à arte de escrever. Ler é um ofício que enriquece o texto concebido pelo autor, aprofundando-o e tornando-o mais complexo, concentrando-o para que reflicta a experiência pessoal do leitor e expandindo-o para que alcance os mais longínquos confins do universo do leitor e mais além. Escrever, ao invés, é a arte da resignação. O escritor tem de aceitar o facto de que o texto final não será mais do que um reflexo turvo da obra que concebera na mente, menos iluminado, menos subtil, menos pungente, menos preciso. A imaginação de um escritor é todo-poderosa e capaz de sonhar as criações mais extraordinárias em toda a sua desejada perfeição. Depois, vem a descida à linguagem e, na passagem do pensamento à expressão, muito – muitíssimo – se perde. Quase não há excepções a esta regra. Escrever um livro é resignarmo-nos a falhar, por muito honroso que seja esse falhanço.”







Alberto Manguel







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