05 março 2015






Morangos




No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínhamos

a vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a música e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamos

merecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor é um passageiro
ocasional e difícil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.







Rui Pires Cabral







8 comentários:

  1. em vez de morangos podem ser cerejas?
    Gosto tanto :P

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  2. Que poema tão enternecedor!
    "No começo do amor" - Lindo!

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    Respostas
    1. "todas as cidades se parecem", mas… a minha lisboa é mais linda que a tua ;)

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  3. Mas o pior é que já achamos perigoso e, pior ainda, disparatado comer morangos na praia ao amanhecer..

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