Ando um
pouco acima do chão
Nesse lugar
onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco
acima dos pássaros
No lugar
onde costumam inclinar-se
Para o voo
Tenho medo
do peso morto
Porque é um
ninho desfeito
Estou
ligeiramente acima do que morre
Nessa
encosta onde a palavra é como pão
Um pouco na
palma da mão que divide
E não separo
como o silêncio em meio do que escrevo
Ando ligeiro
acima do que digo
E verto o
sangue para dentro das palavras
Ando um
pouco acima da transfusão do poema
Ando
humildemente nos arredores do verbo
Passageiro
num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar
das árvores com fruto e das árvores
No meio dos
incêndios
Estou um
pouco no interior do que arde
Apagando-me
devagar e tendo sede
Porque ando
acima da força a saciar quem vive
E esmago o
coração para o que desce sobre mim
E bebe
Daniel Faria