28 outubro 2014






fábula  do  soneto  simples






sempre desejei escrever um soneto simples com letras de água:
catorze versos alinhados da forma habitual numa folha branca
em que as palavras mais não fossem que ondas desalinhadas
e as frases pudessem evocar as imagens náuticas que em mim


se repetem todas as noites. deitado ao teu lado não adormeço
sem içar uma âncora, mesmo quando sei que sonhas um mar
por nós nunca dantes navegado. ouço a tua respiração suave
e sei que em ti se aporta a ilhas encantadas, em ti não morre


nunca a promessa do aroma da canela. se te navegasse podia
descobrir que afinal não estou preso a este cais e libertar-me
das amarras de sal nos meus pulsos de marinheiro que naufraga


ao olhar a mansidão do teu corpo de caravela ancorada a nós:
por que razão continuamos encalhados nesta maresia só nossa
se sabemos ambos que a maré apenas sobe quando a noite desce?







8 comentários:

  1. E está a ver como o desejo se cumpriu?!
    Mais uma história bonita, José Luís;)

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  2. Bolas, josé luís, isto não é bom, isto é sublime!!!! ADOREI!!!
    (e só não fiquei mareada com a ondulação, porque me segurei bem ao cais)

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  3. "sempre desejei escrever um soneto simples com letras de água". Simples, mas profundo! Já lhe disse o quanto adoro as suas fábulas? Pode chamar-me chata. ;-)))

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  4. Palavras simples mas que dizem muito .
    Adorei :)

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