Pai, dizem-me
que ainda te chamo, às vezes, durante
o sono - a
ausência não te apaga como a bruma
sossega, ao
entardecer, o gume das esquinas. Há nos
meus sonhos
um território suspenso de toda a dor,
um país de
verão aonde não chegam as guinadas
da morte e
todas as conchas da praia trazem pérola. Aí
nos
encontramos, para dizermos um ao outro aquilo
que pensámos
ter, afinal, a vida toda para dizer; aí te
chamo, quando
a luz me cega na lâmina do mar, com
lábios que se
movem como serpentes, mas sem nenhum
ruído que
envenene as palavras: pai, pai. Contam-me
depois que é
deste lado da noite que me ouvem gritar
e que por
isso me libertam bruscamente do cativeiro
escuro desse
sonho. Não sabem
que o
pesadelo é a vida onde já não posso dizer o teu
nome - porque
a memória é uma fogueira dentro
das mãos e tu onde estás também não me respondes.
Maria do Rosário
Pedreira
na mouche
ResponderEliminar;) um beijo, ana
EliminarSempre que a leio aqui gosto muito!
ResponderEliminarNão tenho nada dela, já percebi que tenho que comprar uns livrinhos :-))
a.r., aconselho a "poesia reunida", da quetzal. está lá tudo. ;)
Eliminarobrigado josé luís!
ResponderEliminarbj e bom fds
Como comentei algures atrás, saudades destas têm de ser muito pequeninas no tempo, senão começam a doer. Flutua-se um bocadinho na memória, mas depois cai-se novamente numa almofada qualquer do presente, num livro, num bolo, num post, whatever!
ResponderEliminarBeijinhos e boa semana!