[…e também não me lembro de ter dito ao dinis para me fotografar por escrito…]
Os naufrágios do
amor exigem
medidas drásticas
e extraordinárias.
Depois de dezenas
de requerimentos,
o mesmo número de
insistências,
muita perseverança
e algumas rezas,
eis que finalmente
surgiu uma vaga.
Foi ontem à tarde.
Durante um bom par
de horas
estive à conversa
com Santo António
– A ver se me
arranja uma moçoila,
uma moçoila
carinhosa, bonita, fiel.
A agenda a
transbordar,
imensos pedidos,
permanentes quefazeres.
– Por tais e
quejandos motivos, vi-me forçado
a acrescentar mais
três dias ao mês de Fevereiro:
até ao dia 31 não
terei mãos a medir.
Ainda pensei que
esse assunto das redes sociais
contribuísse para
aliviar-me a carga – mas qual quê?
A faina duplicou,
triplicando-me destarte as preocupações.
Depois em gestos
medidos,
numa expressividade
parenética:
logo que sobeje
tempo
prometo tratar
disso.
Como estava a
dizer-lhe,
há depois aqueles
peixes mais ariscos.
Eu bem fui
insistindo na rogatória,
falei na cor dos
olhos, que os queria
castanhos, como os
da minha mãe.
Gostaria dela com
cabelo comprido,
pele branca,
sorriso de flor de cerejeira,
pernas de Vénus de
Botticelli,
mas o canonizado
tagarela passou o resto
da tarde a
discorrer caudalosamente sobre
peixes, anzóis e
canas de pesca
– e eu a ver
navios.
Dinis Moura