Cidade dos desaparecidos
Muitas
vezes não amei Lisboa,
não soube
amá-la ao anoitecer
dos dias
úteis, quando era gasta,
parada e
suja, e nos autocarros
quase
vazios viajava de luz acesa
a
entranhada tristeza do mundo
que foi a
minha primeira e mais
precoce
intuição. Grande cidade
dos
desaparecidos, eu não tive
tantas
vezes a saúde de gostar
dos teus
pequenos jardins
abandonados.
Quando nos cafés
já iam
desligando as máquinas
e do outro
lado da linha ninguém
voltava
jamais a responder
como eu
queria, quantas vezes
não pude
achar o sítio e o sossego
para
esquecer e dormir? Mesmo assim,
eu não te
fiz justiça, Lisboa, quando
me deixei
ir de ti: eu não era exemplo,
eu sempre
estranhei um pouco a cama
da vida.
Rui Pires
Cabral
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