fábula sobre borges sobre wilde
dedicou-se o
mago bibliotecário, no fervor de buenos aires, ainda a otras inquisiciones
numa escolha
pessoal de magistrais pequenos ensaios sobre os seus ícones literários.
num refere que
citar o nome de wilde é mencionar um dandy
que também fosse poeta,
é
evocar a imagem de um cavalheiro dedicado a espantar com gravatas e com
metáforas,
a
noção de arte como um jogo selecto ou secreto, e o poeta como um laborioso
artífice.
borges
intui essa beleza de um wilde sempre a oscilar entre os estetas e os decadentes
nesse
agitado declínio de fin-de-siécle sob
uma opressiva pompa de baile de máscaras
e
maravilha-se com a citada virtude da insignificância técnica e uma sintaxe
simples:
meros
instrumentos da sua grandeza intrínseca feita invenção permanente de si próprio
descrita
num conjunto de imagens poéticas e aforismos tão universal quanto infinito.
mas
é também o mesmo wilde que refere que todos os homens matam a coisa que amam
e
que confessa em de profundis que
arrepender-se de um acto é modificar o passado;
wilde
escreve que não há homem que não seja, em cada momento, o que foi e o que será
e
borges reconhece que nele há um engenhoso clássico que sabia ter demasiada
razão…
e
fica a suspeita de um argentino cego na procura de um elo com um irlandês que o
via.
quando
borges admite ser custoso imaginar o universo sem os epigramas de wilde
e
que essa dificuldade os torna menos plausíveis, é outro daqueles labirintos
circulares
que
nos propõe: haveria já algo de um jorge luis num oscar fingal que sabia ser o outro.
por
isso tenho pena que wilde não pudesse ter lido a escrita de sonhos e tigres de
borges
e
lamento que não se possa confirmar que alguma vez se tenham olhado num espelho.