Estes poemas, disse ela
Estes poemas, estes poemas,
estes poemas, disse ela, são poemas
sem amor neles. Estes são os poemas de um homem
que abandonaria mulher e filho porque
faziam barulho no escritório. Estes são os poemas
de um homem que assassinaria a sua mãe para reclamar
a herança. Estes são os poemas de um homem
como Platão, disse ela, significando algo que eu não
compreendi mas que mesmo assim
me ofendeu. Estes são os poemas de um homem
que preferiria dormir consigo do que com mulheres,
disse ela. Estes são os poemas de um homem
com olhos como canivetes, mãos como as mãos de um
carteirista, poemas tecidos de água e lógica
e fome, sem nenhum fio de amor neles. Estes poemas
são tão cruéis quanto o canto dos pássaros, tão sem sentido
quanto folhas de olmo, os quais, se amarem, amam apenas
o amplo céu azul e o ar e a ideia
das folhas de olmo. O amor próprio é um fim, disse ela,
e não um princípio. Amar significa o amor
da coisa cantada, não da canção ou do canto.
Estes poemas, disse ela... Tu és, disse ele,
bela. Isso não é amor, disse ela com razão.
Robert Bringhurst
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