20 setembro 2022

 



 

fábula  para  ana  luísa  amaral

 

 

 

 

 

amavas mesmo esta língua de saliva feita palavras e

confessavas ter todos os sintomas dos navegantes no

desejo do mar, essa paixão antiga que não naufraga.

sabias que ficar a admirar as ondas é a mesma coisa

 

 

que encontrar o momento da leitura de um poema,

instantes ambos em que o tempo desacelera e tende

a parar, o ponteiro do relógio por fim amedrontado,

a lágrima que já não cai e, por cima de tudo, um céu

 

 

e nada mais, mesmo de pernas para o ar e virado do

avesso. alguns cantam o amor sem uma rima, outros

passam por um soneto sem o ver, acontece a quem

 

 

não ouve o som que os versos fazem ao abrir. porém

contigo nunca: procuravas o olhar diagonal das coisas

entre corpos, num horizonte vítima de golpes verticais.

 

 





Sem comentários:

Enviar um comentário

cartografe aqui: