fábula para ana luísa amaral
amavas mesmo esta língua de saliva feita palavras e
confessavas ter todos os sintomas dos navegantes no
desejo do mar, essa paixão antiga que não naufraga.
sabias que ficar a admirar as ondas é a mesma coisa
que encontrar o momento da leitura de um poema,
instantes ambos em que o tempo desacelera e tende
a parar, o ponteiro do relógio por fim amedrontado,
a lágrima que já não cai e, por cima de tudo, um céu
e nada mais, mesmo de pernas para o ar e virado do
avesso. alguns cantam o amor sem uma rima, outros
passam por um soneto sem o ver, acontece a quem
não ouve o som que os versos fazem ao abrir. porém
contigo nunca: procuravas o olhar diagonal das coisas
entre corpos, num horizonte vítima de golpes verticais.
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