23 agosto 2022

 



leitura

 


 

 

a leitura induz o mais pejorativo

solipsismo, de sermos os únicos

teólogos da nossa crença numa

biblioteca viva de que fomos os

criadores, magos infalíveis nessa

fantasia de inevitável extensão e

puro espelho do absurdo de ser.

 

 

com a leitura combato o olvido

de não ser quem talvez pudesse

ou até de ser quem nunca fui, e

todos os livros me confessam o 

mesmo: tudo aquilo que nunca

tiveste te é oferecido para logo

ser perdido, pois ler é esquecer.

 

 

na leitura sou o eu próprio e um

eu outro também, e ambos nos

sabemos leitores recíprocos. não

heróis imortais, apenas vagos e

laboriosos artesãos de um lema:

jamais amnésia e esquecimento

mas sim memória e recordação.

 






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