fábula contra a odisseia
pensas que valeu de alguma coisa a tua penosa viagem,
diz-me, acreditas mesmo teres feito bem ao trocar essa
juventude eterna prometida pela bela calipso por um
estéril regresso a casa? não, não aconselhes estes teus
pobres homens a colocarem cera nos ouvidos, o canto
das sereias será por todos ouvido e é irresistível. julgas
ser possível haver poetas que cantem o teu regresso,
que uma aia te reconhecerá, que vingarás essa ilusão
com a ajuda da deusa atena? e não, não digas a esses
marinheiros que te prendam ao mastro com amarras
inúteis, esquece o que te disse circe. a tua fiel esposa
tornou-se a maior vendedora de sudários, ainda crês
que destecia durante a noite tudo aquilo que a viam
tecer de dia? fixa os teus olhos nos meus e di-lo, jura
sempre teres sabido que a aventura errante não te iria
tornar mais sábio, que os deuses são meras invenções
humanas e que, por mais batalhas ganhas ou perdidas,
no fundo não partiste, nunca abandonaste a tua ítaca.
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