22 fevereiro 2022

 


 

a  morte  da  palavra

 

 


 

tal como certas palavras que nunca ouvimos antes

de alguém as pronunciar de modo certo, também

há poemas a que se chega necessariamente tarde.

por vezes tão tarde que os seus versos se tornaram

folhas secas caídas no chão frio do esquecimento

ou flores mortas no mármore inerte das campas. 

o meu mal é juntar palavras sobre o papel e julgar

que ali, escondidos entre linhas de letras, poderão

estar poemas inauditos. e o pior é que olhar para

as palavras escritas fere, talvez mortalmente, a sua

escrita. a morte da palavra mata sempre a palavra.

 

 

( a morte não tem qualquer importância, como se

sabe, mas importa muito a palavra que a nomeia )

 





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