pela velha estrada do sal
é um outono frio e seco em outubro de mil setecentos e cinco
no norte da alemanha. um jovem de vinte anos guarda as suas
roupas e objectos pessoais em dois sacos e, envolto pela névoa
da manhã, deixa a cidade de arnstadt, a pé pela velha estrada
do sal, em direcção a norte. o seu destino está a quase quatro
centenas de quilómetros, que vai percorrer caminhando com
alegria, animado por uma vontade resoluta. ninguém sabe se
conseguiu cumprir o objectivo de não demorar mais de duas
semanas no trajecto, mas é do conhecimento geral que num
domingo se sentou finalmente num banco da igreja de santa
maria em lübeck, para ouvir tocar um organista de sessenta e
oito anos, que não sabe que lhe resta pouco mais de um ano
de vida, nem quem é o jovem. gostava de ter inventado uma
história assim, nem era sequer necessário que o jovem fosse
johann sebastian bach e esse organista se chamasse dieterich
buxtehude. bastava-me tentar escrever sobre essa certeza que
alguns têm no seu próprio destino. que a genialidade não se
alimenta de renúncias. e que o caminho se faz caminhando.
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