03 novembro 2021

 


 

 

pela  velha  estrada  do  sal

 

 

 

 

 

é um outono frio e seco em outubro de mil setecentos e cinco

no norte da alemanha. um jovem de vinte anos guarda as suas

roupas e objectos pessoais em dois sacos e, envolto pela névoa

da manhã, deixa a cidade de arnstadt, a pé pela velha estrada

do sal, em direcção a norte. o seu destino está a quase quatro

centenas de quilómetros, que vai percorrer caminhando com

alegria, animado por uma vontade resoluta. ninguém sabe se

conseguiu cumprir o objectivo de não demorar mais de duas

semanas no trajecto, mas é do conhecimento geral que num

domingo se sentou finalmente num banco da igreja de santa

maria em lübeck, para ouvir tocar um organista de sessenta e

oito anos, que não sabe que lhe resta pouco mais de um ano

de vida, nem quem é o jovem. gostava de ter inventado uma

história assim, nem era sequer necessário que o jovem fosse

johann sebastian bach e esse organista se chamasse dieterich

buxtehude. bastava-me tentar escrever sobre essa certeza que

alguns têm no seu próprio destino. que a genialidade não se 

alimenta de renúncias. e que o caminho se faz caminhando. 

 

 

 

 




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