O outro
Porquê pronunciar nomes de deuses, astros,
espumas de um oceano invisível,
pólenes dos jardins mais remotos?
Se nos dói a vida, se cada dia chega
rasgando as entranhas, se cada noite cai
convulsa, assassinada.
Se nos dói a dor de alguém, de um homem
que não conhecemos, mas que está
sempre presente e é a vítima
e o inimigo e o amor e tudo
o que nos falta para sermos inteiros.
Nunca digas que é tua a escuridão,
não bebas de um trago a alegria.
Olha à tua volta: há outro, há sempre outro.
O que ele respira é o que a ti te asfixia,
o que come é a tua fome.
Morre com a metade mais pura da tua morte.
Rosario Castellanos
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