leituras de agosto
29 agosto 2020
26 agosto 2020
The master
Where the poet stops, the poem
begins. The poem asks only
that the poet get out of the way.
The poem empties itself
in order to fill itself up.
The poem is nearest the poet
when the poet laments
that it has vanished forever.
When the poet disappears
the poem becomes visible.
What may the poem choose,
best for the poet?
It will choose that the poet
not choose for himself.
Donald Hall
21 agosto 2020
chiado dois mil e vinte
sei que és como eu, pensas na morte quase como
um divertimento, um pequeno jogo inocente em
que o importante, claro está, é a vida que iremos
viver após o fúnebre desenlace. alguém disse que
o pior na morte deve ser a primeira noite. não é
possível discordar, a segunda noite forçosamente
terá de ser menos penosa, e constatas que há uma
vida nessas noites, mesmo que não volte a haver
dias. são noites onde vai acontecendo tudo o que
imaginaste para a vida no além. se sonhaste com
nuvens e harpas, elas aí estão, embora às escuras.
se ambicionaste um prado perpétuo, deleita-te na
sombria relva. eu apenas gostaria de poder trocar
os portões perlados por um balcão de bar, e todas
as celestiais trombetas por um trompete ou quem
sabe um saxofone rouco, nem essa primeira noite
custaria a passar. são coisas destas que ocupam o
teu pensamento enquanto admiras a rua deserta
em pleno chiado. quando respirares o vírus, será
que ele sabe que morrendo contigo vai ouvir jazz
noites sem fim, terá ele noção de que em lisboa
tudo se propaga como no país das três sílabas, e
de plástico que era mais barato. penso nas noites
após a vida, feira cabisbaixa sem vista para o mar
e confesso, ai o'neill, tu de ombro pela ombreira
e eu para aqui assim, de mascarilha pela máscara.
15 agosto 2020
Os nomes não designam as coisas:
envolvem-nas, sufocam-nas.
Mas as coisas rasgam
as ligaduras das palavras
e voltam a estar aí, nuas,
à espera de algo mais que os nomes.
Só pode dizê-las
a sua própria voz de coisa,
a voz que nem ela nem nós sabemos,
nessa neutralidade que pouco fala,
esse mutismo enorme onde as ondas rebentam.
Roberto Juarroz
13 agosto 2020
10 agosto 2020
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