17 julho 2019






padecer  de  um  distúrbio




a música de bach, os jogos de cores de vermeer,
a mudez das pedras da calçada, o eco do mar
nos búzios, as fotografias a preto e branco, o
cheiro dos livros, tudo isso me enlouquece.


há uma vertigem, um desvario, quando ouço
miles davis ou inalo um perfume, quando
provo um vinho velho, ou toco nas estantes
de bibliotecas e vou admirar silenciosamente
os portulanos em velino que a cartografia nos
legou sem que deles fôssemos merecedores.


e sinto-me um demente indefeso perante certos
poemas, como aquele da cristina rossi em que
ela assegura não conhecer essa arte de navegar
quem nunca navegou no ventre de uma mulher
e naufragou e sobreviveu numa das suas praias, 
porque não é preciso ter escrito algumas cartas 
de marear para saber que é tudo tão verdade.


de ti não gosto, nem penso em ti. por isso não 
me parece sequer justo mencionar-te na mesma
página em que tentei enumerar tudo aquilo que 
mais me convence de padecer de um distúrbio.






4 comentários:

  1. caramba, há séculos que não escutava d'autor honesto, directo :D*

    __
    (parabéns, Youssouf Ludwig :)

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  2. Leva vantagem quem padece de certos distúrbios :)

    Que bem, josé luís!

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