25 julho 2019






Caligrafia




Mesmo agora, que degenera, a caligrafia
é o menos erótico dos desportos
É, como o ténis, capaz
de cindir um pulso, e discreta e melancólica
como a masturbação - na página
desmaia a breve tinta, o obtuso instante
em que a língua molha os lábios e pende
para a pressa ou para a abstracção

E exige ainda assim disciplina histórica,
fluência
entre a mão e o pensamento,
o bom entendimento de cada caracter
Quase já só a usam os velhos merceeiros
no vagar da penumbra, ou por capricho
os noivos em convites de casamento

Não, nem sequer é um desporto
Ninguém se adestra
numa prática de solidão





Andreia C. Faria





2 comentários:

  1. Tendo compreendido - creio - bem, poema, allow me to disagree: a caligrafia pode ser extremamente erótica, (a poeta relaciona demasiado), entre a masturbação e o ténis não consigo estabelecer nada, rigorosamente, nada, talvez se deva à excessiva pressa e abstração da autora, jamais do instante, precioso, precisamente por sabermos que foge à história, por ser mais fluente, que de noivos mal percebo, e não necessito saber mais do que já soube, assim, em o tempo parado (fuga!!!), e por isso comento, não adentro por práticas de solidão (nefastas, até na poesia acontecem).

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  2. também acho que a caligrafia pode ser erótica (recordo sempre the pillow book do peter greenaway). a correlação com ténis, masturbação & outros desportos avulsos só a entendo por todos envolverem o uso da mão como extensão de uma vontade. coisas.

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