A casa do pobre é como um tabernáculo
onde o eterno se transforma em alimento,
e quando vem à noite ela entra calmamente
em si mesma, em largos círculos,
e, lenta, em si se recolhe, plena de ecos.
A casa do pobre é como um tabernáculo.
A casa do pobre é como a mão da criança,
que não agarra o que os adultos mandam;
apenas um escaravelho de tenazes atraentes,
um seixo redondo transportado pelo ribeiro,
a areia fluida, os búzios sonantes;
suspensa como uma balança,
ela acusa o mais leve peso
com os seus pratos oscilando longamente.
A casa do pobre é como a mão da criança.
E, como a terra, assim é a casa do pobre:
o fragmento de um cristal futuro,
ora claro, ora escuro, em sua queda,
pobre como a pobreza quente de um estábulo -
e todavia noites há em que ela é tudo
e todas as estrelas saem dela.
Rainer Maria Rilke
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