na tabacaria
oscar wilde entrou na tabacaria e pediu um pacote
de cigarros franceses, fortes e sem filtro. enquanto
pagava disse-me com voz doce que se eu quisesse
ser um militar, um veterinário ou um carpinteiro
acabaria invariavelmente por sê-lo, e que isso era
o meu castigo. mas que se aspirasse a ser alguém
sem crenças firmes, sempre inseguro de si, nunca
sabendo o que queria ser, então nunca seria nada
e que essa era a minha recompensa. pouco depois
um dos irmãos pessoa entrou na tabacaria, olhou
para mim como se esperasse uma inábil pergunta,
previsível por parte de um lojista sem metafísica,
e confessou num tom amargo que não era nada,
nunca seria nada, não podia querer ser nada, mas
aparte isso tinha em si todos os sonhos do mundo.