Árvores míticas
As árvores de Lisboa são uma cabeleira
flutuante, têm de Mallarmé as ruínas do
trágico cansado - o traço, as cores, a
paisagem abstracta. São só um deslize
tradutor que cedo repousa sem forçar
a revolta da ideia. Pensar é um clarão
carmíneo encaixado no vale, o espírito
pensante de um Vieira que observa
em parênteses sinais da quintessência.
As árvores de Lisboa são contrastantes,
descobertas, têm árabes pendurados,
judeus voando em passarolas e celtas
que, sem vergonha da derrota, sabem
que a verdade não sobrevive sem o
corpo do mito. Quando se riem, sujas
de orvalho, o tronco rasteja, enterra-se,
enrola-se, quando o espírito brilha,
antecipando o som, o derrame da morte.
Ana Marques Gastão
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