[ parque bensaúde ]
29 setembro 2016
24 setembro 2016
maio de 68
um belo dia
em maio
de sessenta
e oito, tempo
feito de
equívocos,
em alfama,
as vizinhas conversavam.
a roupa
secava ao sol.
os filhos
estavam na escola.
elas
falavam dos maridos.
e
comentavam luísa, a
apanhadora
de malhas em meias,
com o marido
fora há dez anos,
sem dar
notícias. tinha havido
desordens
entre quatro
homens
daquele bairro, por causa
de luísa,
que os
ignorou e
continuava a
cuidar do
filho e a
apanhar
malhas, sossegadamente,
na janela
do rés-do-chão,
inclinando
a cabeça como
a
rendilheira de vermeer.
estavam as
vizinhas
nisto,
deplorando
o
desperdício da
juventude
de luísa,
por absurda
esperança e
por
delicadeza
assim
perdendo a vida, quando
se
aproximou um estranho.
deitam-se a
adivinhar.
aquele bem
podia ser fernando,
marido de
luísa
e
alvoroçaram-se e um cão ladrou.
no beco,
entre
os potes de
sardinheiras
e a roupa
ainda a secar,
estavam
enganadas, mas
tinham
razão num ponto:
era um
marinheiro grego,
exausto,
ainda a ofegar,
depois de
uma cena de porrada
das
antigas, que não tinha
nada a ver
com luísa,
mas que se
chamava odisseus.
Vasco Graça Moura
21 setembro 2016
uma das minhas canções preferidas é esta, de cass mccombs (e verifico agora que nunca aqui o tinha citado). o clip, de que também é co-autor, tem piada por mostrar essa noção algo difusa que sempre me inspiram as fronteiras, por serem quase sempre óbvias (caso das cenas filmadas no méxico) mas haver nelas por vezes algo mais subtil nessa linha que marca a diferença (cenas em new orleans).
on my way to you, old county
hoping
nothing's changed
that
your pain is never-ending
that
is, it's still the same
county
line, county line
i
left so far behind
you
never even tried to love me
what
did i have to do to make you want me?
i
feel so blind, i can't make out the passing road signs
all
that you would have me do is cross that county line
now
you know i'm coming, old county
to
see construction sites
and
your new homes never-ending
i
think i can see the lights
county
line, county line
i
can smell the columbine
you
never even tried to love me
what
did i have to do to make you want me?
i
feel so blind, i can't make out the passing road signs
all that you would have me do is cross that county line
all that you would have me do is cross that county line
11 setembro 2016
mesmo que a morte já me tenha roubado um amor,
intimamente sei que nada deve magoar e doer tanto
como o desaparecimento de um filho. talvez o luto de
nicholas edward cave possa ter sido assim, reunir um
conjunto de canções sombrias, dolorosamente tristes mas
comoventemente belas na sua amargura. e conseguir
terminar o disco dizendo que agora está tudo bem.
intimamente sei que nada deve magoar e doer tanto
como o desaparecimento de um filho. talvez o luto de
nicholas edward cave possa ter sido assim, reunir um
conjunto de canções sombrias, dolorosamente tristes mas
comoventemente belas na sua amargura. e conseguir
terminar o disco dizendo que agora está tudo bem.
03 setembro 2016
O embuste global
Um nariz aquilino é tão bom como um nariz arrebitado para atingir os orgasmos tântricos. Desde que a pessoa não esteja muito constipada, qualquer nariz serve. Mas as manhas do Dianho são muitas e muito manhosas. E as pessoas andam convencidas de que, se não tiverem um nariz XPTO, vá-se lá saber o que isso seja!, não arranjam namorado e isto, em grande medida, é mesmo assim. Mais vale não ter namorado do que andar a aparar o nariz e a dar dinheiro a médicos gangsters. Como se dizia antigamente: que vão roubar prà estrada.
Adília Lopes
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