18 junho 2015







Fala-se de amor para falar de muitas

coisas que entretanto nos sucedem.

Para falar do tempo, para falar do mundo

usamos o vocabulário preciso

que nos dá o amor.

Eu amo-te. Quer dizer: eu conheço melhor

as estradas que servem o meu território.

Quer dizer: eu estou mais acordado,

não me enredo nas silvas, não me enredo,

não me prendo nos cardos, não me prendo.

Quer também dizer: amar-te-ei

cada dia mais, estarei cada dia
 mais
acordado. Porque este amor não pára.

E para falar da morte; da enorme

definitiva irremediável morte,

do carro tombado na valeta

sacudindo uma última vez (fragilidade)

as rodas acendedoras de caminhos

- eu lembraria que o amor nos dá

uma forma difícil de coragem,

uma difícil, inteira possessão

de nós próprios, quando aveludada

a morte surge e nos reclama.

Porque eu amo-te, quer dizer, eu estou atento

às coisas regulares e irregulares do mundo. 

Ou também: eu envio o amor

sob a forma de muitos olhos e ouvidos

a explorar, a conhecer o mundo.

Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo

da escuridão do mundo.

Porque tudo se escreve com a tua letra.







Fernando Assis Pacheco






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