anacronia sentimental
prometes que
vens
hás-de chegar
de noite, quando as corujas despertam
e os
pirilampos piscam luzeiros fugidios,
e hás-de
subir o grande muro com a força dos teus braços
os pés em
esforço nos esconsos das pedras
prometes que
vens
esperarás com
paciência a distracção sonolenta
do cão e, sem
ruído, saltarás com a leveza
de um gato e
tocarás o chão com a delicadeza de mil pétalas
só o meu
coração estremecerá
prometes que
vens
que, sim,
hás-de subir o caminho de heras que serpenteia
até à minha
janela, guardarás na roupa todas
as flores que
colheres pelo caminho e junta-las-ás
em ramos
perfumados para me dar
prometes que
vens
que
desaguarás em mim como um rio a galgar as margens,
uma torrente
de água que me fará perder o pé e
me arrastará
para abismos de onde não quererei sair,
novos
atlantes habitando a superfície fofa do meu embalo
prometes que
vens
e eu digo
que, sim, hei-de esperar-te no fim de todas as heras
abrindo os
braços aos ramos que trarás, pronta a deixar-me
prender com
os limos do teu corpo, silenciando o cão que
dentro de mim
rosna que seria suficiente que tocasses à campainha
caso realmente quisesses vir.
Carla Pinto Coelho
Já conhecia este poema de Carla,de que gosto muito.
ResponderEliminarE reafirmo o que disse na altura.
Na medida do possível, é preciso estar atento e avaliar bem a parte final As esperas não devem ser incondicionais. A promessa repetida algumas vezes sem qualquer vislumbre de concretização é para chutar para o lado. Pela dignidade..
muitos prometem… ;)
EliminarMais um poema e ganhas o direito a um frasco de doce à tua escolha. ((((:
ResponderEliminarsuborno não vale ;)
Eliminar